RENATO RIELLA
Hoje e amanhã, o Brasil lembra que, há exatos 51 anos, os militares derrubaram o confuso governo do vice-presidente João Goulart. Ficaram no poder por quase 21 anos, com cinco presidentes generais indicados sem eleição nem voto.
Meu pai, Agenor, grande comerciante baiano, do ramo atacadista, tinha razão quando disse: “Não vai mudar nada. Continuarei a ser roubado pelos fiscais do governo e pelos gerentes de banco”.
E assim foi. Os mesmos fiscais e gerentes do governo Goulart andaram durante anos roubando o armazém Fonseca, Moreira e Cia. Ltda, que continuaria extorquido hoje, se Agenor estivesse vivo.
É este o saldo de mais de 50 anos de história brasileira. Não se salva ninguém. Todos muito escrotos, tentando segurar o poder nas armas e no constrangimento aos normais, que queriam trabalhar, apenas.
Constatamos hoje que os esquerdistas, que nos constrangiam durante a chamada “Revolução” com um discurso de “nova justiça”, mostraram-se coletivamente bandidos. E alguns, individualmente, são grandes assaltantes das nossas riquezas. Mas como impunham lição de moral aos comuns!
Já os militares, embora roubassem bem menos do que os governantes que vieram depois deles, eram horríveis. Atrasaram o desenvolvimento do Brasil em muitos setores, por puro autoritarismo.
No dia da revolta militar que derrubou o tal do Jango, com 15 anos, eu estava dentro de uma sala nos Maristas de Salvador. Um professor, irmão marista, nos mandou para casa, porque poderia haver conflitos armados nas ruas.
É claro que, na Bahia, não houve nada. Morando defronte da praia, na Pituba, aproveitei o “feriado” para jogar bola na areia, com amigos que nem sabiam o que estava acontecendo.
Dois ou três anos depois, comecei a trabalhar como jornalista nos Diários Associados e vivi, durante anos, num sanduíche ideológico horrível.
De um lado, havia esquerdistas picaretas que patrulhavam nosso comportamento correto, humano, social, responsável e historicamente comprovado como certo.
De outro, o regime militar nos impunha muito medo. Dos 20 aos 23 anos, exerci importantes cargos de chefia em redação na Bahia. A gente se esforçava para fazer bom jornalismo, embora quase tudo fosse proibido pela ditadura.
Algumas vezes, fui chamado à Superintendência da Polícia Federal por um monstro, denominado de delegado Luiz Artur, que torturava uns e outros por nada.
Quando a gente publicava algo mais duro, Luiz Artur me convocava ao seu gabinete, na Cidade Baixa de Salvador. Me dava um chá de cadeira de cinco a sete horas e, no finalzinho da tarde, me liberava, dizendo:
-Você sabe porque veio aqui. Na próxima vez vou deixar você dormindo aqui, pra ver se aprende!
E o jornalista, quase criança, de vinte e poucos anos, saía sozinho, sem advogado, sem pai, sem patrão, para editar um jornal diário, sendo depois chamado de direitista pelos esquerdistas escrotos.
Esta é a lembrança que tenho da chamada Revolução Militar de 1964. Com tanta falta de respeito de todos os lados do poder, o Brasil só poderia acabar nesta merda em que está.