«

»

maio 30 2013

A QUEM INTERESSA O AUMENTO DOS JUROS

RENATO RIELLA

O Banco Central elevou a taxa básica de juros do Brasil (Selic) para 8% ao ano, aplicando o remédio clássico, não necessariamente comprovado, para “evitar o surto inflacionário”. Há muitas leituras em torno dessa decisão.

Aqui  no BLOG, temos comentado que a redução dos juros representou, para a presidente Dilma Rousseff, o mesmo que o Plano Real representou para Fernando Henrique Cardoso. Mas FHC soube capitalizar o projeto de neutralização da inflação e entrou na história, elegendo-se duas vezes presidente da República. O seu partido, o PSDB, até hoje tem o Plano Real como a principal bandeira eleitoral.

Dilma reduziu os juros e gerou condições muito especiais de crédito para toda a população, mas não soube faturar pessoalmente em cima dessa grande conquista. Ela não tem aptidão política. Na verdade, por incrível que pareça, não tem o mínimo saco para dialogar com o povo, nem para vender suas grandes ações em benefício da sociedade. Fica difícil de manter uma candidata a presidente tão autoritária, tão administrativa.

E, assim, vemos o Banco Central abalando o principal trunfo eleitoral de Dilma, mesmo sabendo-se que os efeitos (se houver) contra a inflação só serão sentidos a médio prazo.

A curto prazo, o chamado mercado externo, teoricamente, passa a confiar mais no Brasil, pois vê que temos um Banco Central independente, autônomo e desafiador em relação à própria presidente.

A curto prazo, também, os especuladores internacionais terão maior interesse em comprar títulos do governo brasileiro, pois encontram no exterior remuneração de 1% ou menos por seus “investimentos”, mas aqui se esbaldam com 8% pagos por nós, os míseros contribuintes.

Na verdade, esta não é a principal credibilidade do Brasil lá fora. Temos credibilidade por manter compromissos, por ter uma situação política estável, com plena democracia, e por contarmos, também com um mercado interno forte. Outro fator de credibilidade é a honestidade dos nossos índices.

A Argentina, por exemplo, rouba descaradamente nos índices. O IBGE de lá oferece números falsos, que são fator de riso no mundo. Aqui, não! Se a inflação está subindo, o nosso IBGE reconhece isso. E ainda há entidades paralelas, como FGV, Dieese e outras, mostrando ao mundo como está o desempenho da economia brasileira e provocando debates diversos.

O Brasil, por incrível que pareça, é um país sério, embora ainda se mantenha desestruturado e lento na realização de reformas já diagnosticadas.

Quanto ao aumento dos juros, sinceramente, só interessa aos especuladores financeiros. Se o então vice-presidente José Alencar estivesse vivo, diria: “Isto é um absurdo”.

Se o consumo está caindo, se a produção industrial idem, se o PIB ontem foi previsto para crescimento em 2,2% (pelo ministro Mantega), se o dólar está subindo, aumentar juros neste momento é uma irresponsabilidade – ou uma desonestidade, levando-se em conta que alguém vai ganhar muito com isso.

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*