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jul 16 2014

A VERDADEIRA LEMBRANÇA DO FELIPÃO

EXPEDITO FILHO

Vou lembrar do Felipão para sempre. E não terei em minhas memórias apenas a nódoa da goleada de 7 a 1 para Alemanha. A humilhação vai nos servir para tirar alguma lição do episódio.

Como a derrota costuma ensinar mais do que a vitória, talvez esse tenha sido o sinal de que precisávamos para deixar a arrogância e a soberba de lado.

O que a Copa do Mundo no Brasil nos revelou, de verdade, é que já não somos os melhores. Descemos do panteão e temos muito o que evoluir para deixarmos de ser os bobos da vez.

Mas voltemos ao Felipão e sua decente retirada de cena, já que foi dele a iniciativa da demissão. Sei que no emocional de todos, a ferida ainda está aberta. Mas prefiro lembrá-lo de uma outra perspectiva: a do brasileiro que, em 2002, enfrentou a tudo e a todos e nos trouxe a quinta estrela, esta mesma que você exibe com orgulho em sua camiseta amarela.

Você, eu, todos nós fomos sócios do pentacampeonato, tempos em que tínhamos um timaço. Fomos tiétes do Felipão, quando ele nos levou às alturas e agora, na hora da queda, o vilanizamos de forma implacável.

Em 2002, beatificamos Felipão, santificamos suas escolhas, encantados com os toques de classe de Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Fenômeno. Isso sem contar nos reservas de alto nível, como Denilson, Edilson ( Capetinha) e os Juninhos (pernambucano e paulista). Imagina a dificuldade que o próprio Neymar teria para disputar uma vaga de titular naquele time. E olha que Romário, o gênio da grande área, não teve espaço na família Scolari.

Mas, como os amigos sabem, se a vitória tem 200 milhões de sócios, a derrota é absolutamente solitária. E pior. Quanto mais acachapante, mais cem anos de solidão. Lembram-se de quem antes da copa se autoproclamava clone do Felipão? Pois é, mudou de assunto e calou.

Quando o Brasil perde até o mar silencia. A goleada histórica da Alemanha nos jogou no abismo da insensatez, produzindo um eco profundo na alma nacional.

Já erramos ao julgar e condenar o ex-goleiro Barbosa pela suposta tragédia de 1950. Um absurdo, pura crueldade, burra unanimidade. Nem foi tragédia, nem o pobre goleiro foi o vilão. Foi o fim de uma série de derrotas e o início de uma história de sucesso. Basta lembrar que, depois disso, ganhamos cinco copas do mundo.

Meus amigos, o que quero dizer é que uma copa do mundo nem se ganha, nem se perde sozinho. Juntos ganhamos cinco campeonatos mundiais e unidos perdemos outros tantos. É hora, realmente, de mudar de técnico, de time e de filosofia, mas sem massacre a honra daquele que deixa à cena.

Quanto aos 7 a 1, que sirva para nos lembrar nos momentos de embriaguez, provocados por novos títulos e glória, que não somos invencíveis.

Portanto, deixem a dor de lado e vamos lembrar de Luiz Felipe Scolari não como o homem esquartejado pelos bávaros, mas daquele, que com o apoio de todos nós, bordou a quinta estrela do manto sagrado nacional

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