Tenho histórias inacreditáveis, mas sou salvo pelas testemunhas. Esta é uma delas. Fui responsável pela vitória de Macapá como tema da Beija-Flor em 2008, sendo esta escola a vencedora do Carnaval do Rio de Janeiro.
Isto mesmo! Em 2007, passei doce semana na capital do Amapá, contratado pelo então prefeito João Henrique Machado, fazendo uma pesquisa e uma proposta sobre os 250 anos de criação da cidade de Macapá, tema que acabou dando vitória à Beija-Flor de Nilópolis.
Há coisas que só acontecem comigo. Na verdade, o prefeito pediu ao dono da revista Estados & Municípios, jornalista Guilherme Gomes, que indicasse um profissional para fazer o planejamento deste sonho dele, que era marcar a festa de Macapá com um desfile no Carnaval do Rio. Nem pensava em ganhar o concurso, claro!
O prefeito me disse que já tinha contato com a Beija-Flor, mas precisava de uma pesquisa temática e de um projeto de captação de recursos financeiros muito bem feitos. E me pagaria bem. Oba!
Assim, passei uma semana na beira do Rio Amazonas, hospedado num hotel três estrelas, acompanhado de carro com motorista e de um assessor que conhecia tudo na capital amapaense. Trabalhei muito!
Pensando bem, fui pago para fazer intenso turismo.
Adorei Macapá, uma cidade sem ligação rodoviária, cercada pela floresta amazônica. Isto é um certo exagero, pois há estrada em direção à Guiana Francesa (mas não em direção ao Brasil).
Percorri longo trecho da rodovia internacional e, de repente, o carro parou.
-Vamos deixar essa cobra atravessar a pista – e a bicha, meio grandinha, deslizou na nossa frente, cheia de moral, indo de mato a mato.
Perguntei ao assessor se já havia ocorrido assalto a banco em Macapá. Ele respondeu: “Sim! Mas a polícia fiscalizou o aeroporto e prendeu os bandidos. O avião era a única forma de sair daqui”.
Comi o melhor peixe de água doce da minha vida, num bar-restaurante na beira do Amazonas. É um ponto assustador, onde a gente não vê a outra margem do rio. Oceano puro!
Fui ao estádio local, que dizem os amapaenses ser o único do mundo que fica nos dois hemisférios. Isso mesmo! Como a linha do Equador passa dentro de Macapá, os caras tiveram a idéia de construir um estádio no qual um gol fica no Hemisfério Norte e outro no Hemisfério Sul. Pode ir lá conferir. O Amapá é bem legal!
Estudei o Forte de São José de Macapá, construído pelos portugueses e mantido como uma atração turística. Lindão!
Visitei comunidades quilombolas (negros) mantidas nas redondezas de Macapá.
Na verdade, aprendi o essencial sobre a cidade. Depois disso, escrevi. Fiz um texto emocionante sobre as riquezas culturais, históricas e ecológicas da capital. E produzi, em paralelo, modelo de proposta para a captação de recursos, tecnicamente bem fundamentado.
O então prefeito me disse que precisava, pelo menos, de R$ 4 milhões para conseguir o “aceite” da Beija-Flor. Soube depois que atingiram cerca de R$ 8 milhões.
No meu modelo de proposta de patrocínio, atendendo a sugestões diversas, incluí bancos, supermercados, companhias de aviação e a poderosa Eletronorte, entre outras opções.
O assessor do prefeito me disse que, com aquela minha proposta bem elaborada, seria fácil para o senador José Sarney conseguir um patrocínio de cerca de R$ 4 milhões da Eletronorte para marcar os 250 anos de Macapá.
Fiz meu trabalho, recebi uma remuneração que pagou bem a minha alegre semana no Amapá, e esqueci o assunto.
Como detesto escola-de-samba, nem vi os desfiles. Dias depois, no sábado seguinte ao Carnaval, vejo na TV que a Beija-Flor ia fazer o desfile de comemoração do título, tendo vencido com o seguinte enredo: “Macapeba equinócio solar, viagem fantástica ao meio ambiente”.
-Pôxa! Não acredito! O meu enredo… Ganhei!!!!
E nem fui convidado… Mas já tinha recebido minha graninha! Sem falar dessa história verdadeira que tenho para contar sempre. (RENATO RIELLA)