RENATO RIELLA
Chamem a Cruz Vermelha ou as tropas da ONU.
Que venham os marcianos ou os curandeiros.
Acionem-se os bombeiros ou os observadores internacionais,
mas não deixem os hospitais de Brasília sem atendimento.
Faça-se piquete em sentido inverso,
promessas para santos e santas.
Ampliem-se os orçamentos,
reduza-se a mordomia,
apertem-se todos os cintos,
mas não deixem os hospitais morrerem.
Crie-se plebiscito,
que venha até algum impeachment,
mas não deixem os ambulatórios sem nada.
Que se convoque a Igreja,
a OAB ou o Ministério Público,
até mesmo deputados e senadores,
mas que surja solução para a saúde do DF.
Que se faça tudo isso e muito,
mas muito mais,
porque o povo pode até comer pão sem manteiga,
pode enfrentar o frio enrolado em jornal,
pode estudar menos ainda,
mas pelo menos tem de encontrar
um hospital onde cair morto.
Será que não existe nenhum poder supremo
que possa garantir atendimento
de saúde na Capital Federal?
Tragam o Papa para fazer uma campanha,
faça-se uma nova Constituinte
ou uma nova moratória,
mas vamos restabelecer o funcionamento
nos hospitais e postos de saúde.
Se nada disso der certo,
o jeito vai ser baixar uma lei, urgente:
“Proibido ficar doente
Nesta cidade abençoada por Dom Bosco”.
(Publiquei este texto no Correio Braziliense em 1987.
O texto permanece vivo, mas quanta gente
já morreu sem atendimento minimamente decente
na cidade de maior renda per capita do Brasil).