BEATRIZ ABREU
O Relatório Trimestral de Inflação, com divulgação prevista para a última semana de 2014, será a bússola para o comportamento da economia no próximo ano, com o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
A posse da nova equipe econômica – Joaquim Levy para o ministério da Fazenda, Nelson Barbosa para o ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, com a permanência de Alexandre Tombini, no Banco Central – está embalada na percepção de que medidas de ajuste fiscal serão implementadas para recuperar o equilíbrio do tripé macroeconômico: política monetária, fiscal e meta de inflação e o câmbio flutuando na medida do possível.
O panorama sobre o que foi 2014 e o cenário previsto para 2015 tem como pano de fundo a ata da última reunião do Copom deste ano.
Pela primeira vez em muito tempo, a diretoria do Banco Central volta a falar com mais liberdade da necessidade de um inadiável ajuste fiscal. Mesmo assim, manteve a cautela que é peculiar ao BC.
O texto da Ata afirma que o impacto da política fiscal no balanço do setor público “tende a se deslocar para a zona de neutralidade”. Ou seja, ainda não é neutro. Por isso mesmo, a necessidade de puxar um pouco mais a Selic, fixada agora em 11,75% ao ano.
As incertezas sobre a intensidade deste ajuste foram alimentadas com o retrocesso da presidente Dilma Rousseff, que autorizou mais um aporte de R$ 30 bilhões ao BNDES. Este ano, o reforço de caixa do BNDES soma R$ 60 bilhões. Foi muito maior no passado recente.
Essa operação foi necessária para sustentar financiamentos a indústria de bens de capital, dentro da perspectiva de relançamento da economia. O tamanho da nossa economia, em 2015, vai depender e muito da sintonia entre as medidas de ajuste e a política monetária, que tem seus efeitos diluídos ao longo de seis meses.
O Banco Central tem como compromisso fazer a inflação retornar à meta de 4,5% -com variação de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo- em 2016.
O percurso da política monetária será desenhado ao longo de oito reuniões do Copom nos meses de janeiro, março, abril, junho, julho, setembro, outubro e novembro de 2015.
Até lá, é consenso que a inflação irá superar o teto da meta nos primeiros meses do segundo mandato de Dilma. Faz parte do jogo! Afinal, não está programado um choque na economia para não asfixiar ainda mais o setor produtivo e tentar preservar o mercado de trabalho.
O objetivo, agora, é recuperar a capacidade de previsibilidade do setor privado e financeiro e conferir maior credibilidade à política econômica. Quanto menor o risco de inflação, mais fácil se torna a avaliação de cenários por parte da diretoria do BC e a coordenação de expectativas dos agentes econômicos e formadores de preços.
Apesar de contar com o braço da política fiscal, menos subsídios e crédito crescendo de forma sustentável, o Banco Central se mantém vigilante: de olho nas pressões inflacionárias de curto prazo para que não se propaguem no longo prazo.