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abr 23 2015

ANÁLISE: EXPLICANDO ESTA CONFUSÃO DA PETROBRAS

AUGUSTO LEMOS

A Petrobras finalmente ontem divulgou seu balanço auditado, referente ao ano de 2014, reconhecendo perdas totais de 50,8 bilhões de reais, valor inferior às primeiras estimativas do tempo de Graça Foster, mas bastante superior ao que esperava o mercado.

O que vem sendo amplamente comentado na imprensa é que, desses quase 51 bilhões de reais de perdas, pouco mais do que 6 bilhões de reais correspondem à corrupção e pouco menos de 45 bilhões de reais a “impairment” (reavaliação de ativos), que seria decorrência sobretudo de má gestão.

A estimativa das perdas por corrupção não se desviou muito do que esperava o mercado, enquanto que o valor das perdas por reavaliação veio muito acima do que se admitia como teto provável.

Para chegar ao valor da parcela da corrupção, de cerca de 6 bilhões de reais, a Petrobras listou os 31 contratos firmados por 27 empresas citadas nas investigações da Lava Jato entre 2004 e 2012, um belo naco das gestões petistas, e aplicou o porcentual de 3% sobre todos os pagamentos feitos.

Trata-se, sem dúvida, de um método perfeitamente razoável de calcular o valor das propinas pagas no âmbito do petrolão, mas nunca uma avaliação justa das perdas da empresa por corrupção.

É que tais perdas não se cingem ao valor das propinas pagas (que teriam sido adicionadas aos custos das obras, ou bens, de modo que foram pagas, em última análise, pela empresa), mas incluem também outros superfaturamentos nas licitações e aditivos, tornados possíveis justamente pela complacência lubrificada pelas propinas.

Quanto ao “impairment”, trata-se das perdas patrimoniais geradas pelas reduções nos valores dos ativos, em relação aos valores pelos quais estavam contabilizados, através de reavaliações a preços de mercado, ou por metodologia que disso se aproxime.

Evidentemente se devem a problemas de gestão, planejamento falho e a variáveis de mercado (câmbio, queda do preço do petróleo e demanda por combustíveis), mas também aos superfaturamentos referidos acima, isto é, à corrupção.

Basta relembrar o que a Lava Jato trouxe à luz sobre Pasadena, Abreu e Lima e Comperj.

É até possível que a incompetência da gestão petista tenha produzidos resultados ainda piores que os da corrupção, mas me parece importante reconhecer que a proporção não é essa que tem sido divulgada.

Por duas razões. Primeiro, não se pode permitir que a noção de que o PT produziu um escândalo de corrupção cujas proporções não tem paralelo no mundo se perca nas brumas do tempo.

Segundo, porque atribuir essa enorme perda patrimonial por reavaliação de ativos a problemas de gestão, falhas de planejamento e flutuações de mercado exclusivamente, acaba por atenuar as fronteiras entre as responsabilidades dos apaniguados do PT e dos partidos cúmplices, e as dos funcionários da Petrobras, que são tão vítimas quanto a própria empresa.

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