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jul 31 2018

ARI CUNHA, UM MACHISTA CEARENSE NUMA REDAÇÃO DE BICHOS LOUCOS

O famoso jornalista Ari Cunha morreu aos 91 anos, aqui em Brasília.

Nas diversas décadas, desde 70, nossas vidas se cruzaram de forma confusa. Mas acho que a gente se gostava.

Vim da Bahia, em 1974, transferido pelos Diários Associados para trabalhar com ele, mas não consegui permanecer mais de seis meses. Que cara difícil!

O salário era tão baixo, que tinha de manter empregos nos três turnos.

De tão cansado, um dia cometi grave erro. O Correio Braziliense publicou em manchete o novo valor do salário mínimo, digitado por mim com valor errado. Que gafe!

Na manhã em que o jornal saiu com esta falha, fiquei trabalhando envergonhado, quando Ari entrou lentamente, parou ao lado da minha mesa e falou forte:

-O que se faz com um redator que erra o salário mínimo na primeira página do jornal?

A redação parou de respirar, esperando a minha resposta:

-Só há uma coisa a se fazer: demitir o redator! – disse bem alto.

Foi aquele silêncio. E agora, o que vai fazer o poderoso Ari Cunha? Sabem o que ele fez? Berrou o seguinte:

-Não fode, baiano! – deu meia volta e tudo ficou por isso mesmo.

Tive muitos outros choques com este cearense extremamente conservador, machista, mas que convivia com uma redação com hippies, gays, bebuns, drogados, extravagantes diversos, além da minha pessoa extremamente certinha, que só fazia trabalhar, trabalhar e trabalhar.

Fui muito amigo do Ari, nas nossas divergências. Uma vez na vida ele me chamava na sala, enchia dois copos de uísque com gelo, no final da tarde, e puxava conversa.

Depois dizia: “Você não é de nada. Nem saber beber!”

Assim seguíamos, bem diferentes em tudo. Acompanhei de perto, com grande respeito, o romance de muitos anos do Ari com a minha amiga, a grande repórter Liana Sabo.

Em 1988, na minha terceira passagem pelo Correio, tive grave problema com Ari Cunha. Isso aconteceu pouco tempo depois de conseguir obter para o jornal o Prêmio Nacional de Jornalismo, com o Caso Mário Eugênio, esforço de uma equipe a mim vinculada.

Como chefe supremo da redação, fui informado pelo Departamento de Pessoal que Ari Cunha havia demitido, sem me falar, o repórter Policarpo Júnior – este mesmo, hoje muito famoso, atual diretor da Veja.

Resultado: fomos embora os dois, Júnior e eu, deixando um verdadeiro buraco na redação.

Mesmo assim continuei amigo do Ari. Até freqüentei seu aniversário no Lago Norte algumas vezes.

Redação é um ambiente tenso, da qual a gente costuma guardar as boas experiências.

Com este espírito, lembro do Ari Cunha uma das frases mais interessantes que já ouvi, extremamente machista. Ele falava em pé, para a gente ouvir:

-Há três coisas que homem nunca desmente: valentia, dinheiro e mulher – depois dava aquela gargalhada, e comentava: “Você já viu alguém negando essas três qualidades?” (RENATO RIELLA)

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