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mar 31 2018

ARTIGO: A guerra da política

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF
É antiga a piada do inglês que descobriu a verdade: sua filha estava se deitando no sofá da sala para atender a seus hormônios e os do namorado. A maior farra. Depois de se mostrar perplexo com a novidade, o britânico tomou a decisão definitiva. Tirou o sofá da sala.

A legislação eleitoral brasileira lembra esta atitude diante do inevitável. Proibiu a doação de recursos para campanha eleitoral por parte de pessoas jurídicas. Foi a maneira encontrada para evitar que as grandes empreiteiras continuassem a formar grandes bancadas no Congresso.

Esqueceram que existem candidatos milionários capazes de bancar suas próprias campanhas, que deverão ter ajudas discretas, porém efetivas, de empresários amigos. E mais: quem tem muito dinheiro em espécie no Brasil, fora do controle da Receita Federal e do Banco Central, é o pessoal do tráfico de drogas e os de outras traficâncias.

Entra e sai dinheiro não contabilizado aos montes no país e as autoridades não enxergam nada por cegueira efetiva, deliberada ou obtusidade córnea. Nas campanhas poderá ocorrer o grande festival de recursos escusos. Mas, formalmente, o sofá não está mais na sala.

Outro aspecto interessante é definição de que a campanha eleitoral deve durar, neste ano, apenas 45 dias. O objetivo foi reduzir gastos. Mas a informação não chegou ao ex-presidente Lula. Ele promove, há algum tempo, suas caravanas.

Agora, Lula está andando pelo Sul do país, região onde ele não desfruta de grande prestígio. Foi recebido com certa agressividade, mereceu chuva de ovos, algumas pedras e, segundo relatos, três tiros. Ninguém se feriu, mas o suposto atentado colocou a caravana, que andava muito devagar, nas primeiras páginas dos jornais. Virou notícia. É campanha eleitoral disfarçada.
Mas, a bem da verdade, é importante lembrar que o deputado Jair Bolsonaro também está em campanha há bastante tempo. Ele percorre o país, promove debates, agride verbalmente adversários, provoca antagonistas e xinga à vontade, diz palavrões de todos os tipos e tamanhos. Repertório farto. Isto lhe garante alguma notoriedade.

Os dois, não por acaso, aparecem em destaque na lista dos preferidos no povo brasileiro. Um precisa do outro. São extremos perigosos, neste momento da história do Brasil, um país dividido, desorganizado, desmoralizado, onde a Justiça, último bastião, caminha para perder sua aura de autoridade máxima através de sucessivos jeitinhos cometidos pelo Supremo Tribunal Federal.

O Brasil é um caso diferente na história do continente. É a única colônia cujo território cresceu. Durante o período em que o reino português foi dominado pelos espanhóis (1560 a 1640), os bandeirantes ignoraram a linha de Tordesilhas e avançaram em direção ao oeste.

A pé ou em lombo de burro incorporaram Goiás, Mato Grosso e chegaram aos limites do que é hoje Rondônia. Na diplomacia ganhou uma parte do que foi a Colômbia, incorporou o Acre e somou a seu território parte do Paraguai.

O país cresceu. Depois da independência, integrou toda a Amazônia após a odisseia de Pedro Teixeira, que conquistou a região para os portugueses. O país sempre constituiu um território unido.

O discurso do Partido dos Trabalhadores cria diferenças entre “nós e eles”. Proporciona o surgimento de dois países. Lula tem grande aceitação no Nordeste. E baixíssima aprovação no Sul.

O confronto, que não beneficia ninguém, coloca a questão do desmembramento da nação numa perspectiva atual. É um risco sério e tremenda responsabilidade para quem joga mais gasolina nesta possibilidade de divisão do país em blocos.

Não é bom brincar com regionalismos. Os exemplos europeus são eloquentes. Regiões unidas há tempos, enfrentaram seus fantasmas e se separaram. Os ingleses estão deixando a Europa por causa de assuntos menores. Os dois lados perdem.

Quem aparecer no cenário político com o discurso da conciliação tende a ganhar, porque agrega valor e quantidade. Seus próprios votos já estão garantidos. O desafio é receber apoio no outro lado e tentar vencer a eleição pelo caminho do meio.

Radicalizar é fácil. Tirar o país do trilho não é difícil. O país já perdeu muito tempo. Existem situações de emergência que precisam ser atacadas agora. Dividir não beneficia ninguém. Degrada, piora e desagrega.

Os quase 20 candidatos sabem que a eleição está pulverizada. Só dois irão para o segundo turno. Os antagônicos precisam aprender a viver no mesmo espaço político. A guerra produz vítimas nos dois lados. E não auxilia ninguém.

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