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abr 16 2014

Artigo: A MOEDA DA GRATIDÃO NÃO FOI CUNHADA PARA ALGUNS

HENRIQUE HARGREAVES

Foi com muita decepção que ouvi, no programa eleitoral do PSDB, declaração do senador Aécio Neves, visando se promover de forma sensacionalista, para fins eleitorais, dizendo que recebeu o governo de Minas Gerais sem dinheiro até mesmo para pagar funcionários, como se estivesse em estado de falência. Ele disse ainda que, graças a receitas milagrosas, conseguiu reerguer o estado.

Estou decepcionado. Faltou dizer, a não ser que por economia de palavras, que recebeu o estado com dificuldades assim como ocorreu com todos os governadores. Se pretendeu dizer que com ele foi pior, para se valorizar, acabou cometendo um ato que o desmerece: o da falta de gratidão.

Naquela época, o PSDB não tinha a mínima condição, pelo menos em curto prazo, de eleger o governador, se levados em conta os resultados eleitorais anteriores. Além do mais, o PSDB era adversário político do Governo do Estado e durante a gestão de Itamar Franco causou todas as formas possíveis de obstrução,

No entanto, Itamar Franco, em duvidosa argúcia, decidiu romper com os seus aliados e com o seu partido, criando para si uma série de inimizades. Ao invés de deixar o governo, assumindo uma candidatura vitoriosa ao Senado, permaneceu no cargo, sem se candidatar à reeleição, oferecendo um apoio total e irrestrito ao então deputado federal Aécio Neves, oposicionista.

Este ato propiciou a vitória de Aécio naquelas eleições. Itamar não exigiu qualquer tipo de participação no governo, sequer indicando um nome para vice- governador, ou mesmo secretários de estado. Itamar procedeu do mesmo modo quando elegeu o presidente Fernando Henrique, também do PSDB, legenda também oposicionista e, de igual forma, sem perspectivas eleitorais naquele momento,

No entanto, com poucos meses de governo, o estão secretário de Planejamento de Minas, Antônio Anastasia, com a aprovação do governador, concedeu inesperada entrevista a uma revista nacional, sem nenhuma cerimônia, com argumentação falaciosa, procurando desqualificar a gestão anterior.

Itamar se surpreendeu com o procedimento por parte daquele que elegeu, uma vez que transmitiu o governo a Aécio, sem duvida, com uma situação financeira não eufórica, mas sem dívidas e com o pagamento de servidores em dia, e com uma situação melhor do que quando recebeu o governo, assim como Azeredo entregou em situação melhor do que quando recebeu de Hélio Garcia, e assim por diante.
Falta humildade ao senador ao não querer se igualar aos seus antecessores.

Disposto a romper politicamente com seus detratores, Itamar não o fez em face de pedidos de desculpas formulados ao pé do ouvido. Na verdade, Itamar não desejava, em curto prazo, se apresentar como tendo errado em sua escolha, mas essa amargura esteve sempre presente, até sua morte.


NÃO DÁ PARA OUVIR EM SILÊNCIO ESSAS IGNOMÍNIAS

E não foi a única vez que procedeu de forma injusta o então governador Aécio Neves. De outras tantas vezes, ao festejar algum feito administrativo ou em campanhas eleitorais, entendia, como entende agora, ser essencial desqualificar o governo de Itamar para seu proveito, mesmo sem considerar que o mesmo já faleceu e não tem como se defender, a não ser através de seus antigos auxiliares e amigos, que não permitirão, como não permito, ouvir em silêncio essas ignomínias.

Embora não seja meu desejo agir da mesma forma, desqualificando o seu decantado Choque de Gestão, é preciso que se diga que, ao passar o governo a Anastasia, para se candidatar ao Senado, Aécio deixou as finanças do estado, aí sim, quase sem condições de assegurar os salários dos servidores.

Não é nenhum segredo, sendo passível de apuração em uma auditoria séria, que os seus grandes feitos foram à custa de cortes de salários, e de recursos novos, como a transferência das contas do estado para o Banco do Brasil, até então sob a administração do Banco Itaú, e de empréstimos externos, que acumulam dividas significativas.

Portanto, conclamo o senador a por a mão na consciência, de modo a não repetir esse gesto de ingratidão, que em nada contribui para o seu discurso e seu histórico de vida, e não tem nenhuma influência positiva no seu projeto eleitoral.

Guarde suas energias para enfrentar as dificuldades e obstáculos que virão durante sua campanha. Procure mostrar os seus méritos reais, com uma agenda positiva, pois já é passado o tempo em que os brasileiros se estimulam ao voto em função de chavões e oratória ufanista.

Aliás, uma característica ninguém tirava de Itamar: o seu raciocínio político e perceptivo. Por isso, ele sempre me dizia que não me surpreendesse com o comportamento dos seus aliados e não esperasse nada deles após a sua morte, pois o conceito de amizade é bastante efêmero e a moeda da gratidão não foi cunhada para muitos.

É lamentável constatar que Itamar realmente tinha razão.

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