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ago 10 2018

ARTIGO: Cegueira política

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista

Já vão longe os tempos em que Bush Junior e Lula trocavam ideias e manifestavam suas próprias opiniões sem embaraços, nem constrangimentos. Eles dois desdenhavam os intelectuais que os antecederam, Fernando Henrique e Bill Clinton, e gostavam de ser apresentados ao público como pessoas do povo, com pouco estudo, mas capazes de decidir questões práticas.

Algumas vezes, Bush recorreu a Lula para conter Chaves, na Venezuela. E ocorreu o contrário em outras situações. Os dois se davam muito bem.

Tudo isso passou. Bushinho, como se sabe, é alcoólatra. Mas deixou de beber, frequentou os cursos necessários e dorme cedo. Decidiu invadir o Iraque, sob o mentiroso pretexto de que o país possuía armas de destruição em massa.

Nada foi encontrado, mas o desastre militar deu início ao seríssimo problema da migração forçada de muçulmanos para a Europa e também para os Estados Unidos. Erro político da maior gravidade. Ajudou a construir a barbaridade chamada Trump.

Lula aprecia uns goles, prefere uísque e cachaça, e não tem muita preocupação com o horário em que se deita. Viúvo, hoje hospedado na exígua cela da Polícia Federal, em Curitiba, tem visto o sol nascer quadrado. Mas nada o impediu de montar a estratégia do Partido dos Trabalhadores.

Lula massacrou Ciro Gomes, arrasou os que pretenderam crescer à sua sombra, e escolheu dois postes.

Fernando Haddad, já consagrado como candidato a vice. E a novidade de um vice do vice, que abandonou candidatura própria para atender ao grande líder, o timoneiro da esquerda brasileira.

Bush e Lula, cada um deles tumultuou o que lhe era próximo. Um bagunçou o Oriente Médio. O outro avacalhou seu país.

É difícil imaginar que uma pessoa que chega a posição reserva do candidato à Presidência da República tenha grandes sonhos ou projetos nacionais. Ela fará o que seu mestre mandar.

Pior é a situação de quem era candidata de sua legenda e resolveu ser poste de poste. Não sei se Manuela D´Ávila tem expectativa de propor alguns projetos, além dos chavões que pratica em seus discursos.

Manu entrará para a história política do Brasil como um poste que depende de outro poste. Difícil encontrar espaço e oportunidade para fazer valer sua palavra.

A eleição de 2018 é o momento em que se acumulam diversas tragédias e frustrações. Não é bom concorrer com Lula preso. Esta circunstância não faz bem a ninguém, nem aos candidatos. Ficará uma mancha na história do Brasil. Mas a lei existe para ser cumprida.

O ex-presidente abusou da sua situação presidencial, foi além da Taprobana em suas incursões desvairadas sobre ativos financeiros. Está pagando por seus erros. E exageros. O poder destruiu seu bom senso.

A equipe de advogados de Lula briga entre si. Os petistas se comportam como militantes de uma ordem messiânica que admite ser pacificamente manipulada pelo grande líder.

Situação ruim. Tão ruim quanto a do candidato que não se aprofunda nas questões nacionais, porque não as conhece. Não tem projetos.

Seu vice professa uma antropologia de almanaque com profundidade de formiguinha atravessar com água nas canelas.

O Brasil cresceu muito nas últimas décadas. Dos anos 50 do século passado até os dias que correm surgiu um novo país, que venceu dificuldades, descobriu o Centro-Oeste e agora alcança o Noroeste, mas se comporta como se nada disto houvesse ocorrido.

É industrializado, possui um agronegócio moderno e exportador, sistema bancário forte e comércio bem distribuído pelo território.

O Brasil fabrica aviões, hospeda 14 montadoras de veículos, possui controle de alta tecnologia, está entre as dez maiores economias do mundo, mas se comporta como ainda vivesse no tempo de Lampião.

Esta é a tragédia nacional. Os políticos brasileiros adoram o subdesenvolvimento. São cegos diante das oportunidades que o futuro oferece.

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