«

»

out 27 2017

ARTIGO: IMAGENS DA PÁTRIA

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF

A temporada de apostas contra e a favor do presidente Michel Temer aparentemente chegou ao fim. Ele ultrapassou os obstáculos colocados em seu caminho. Utilizou as armas de sempre. Ouviu, barganhou, atendeu solicitações, pedidos e indicações. Todos os governos fazem isso em todos os cantos, em todos os tempos. O problema é que o Brasil se desvendou diante dos brasileiros. O cidadão descobriu que não há ingênuos, nem cidadãos tão preocupados com a Nação.
Abraham Lincoln, o lendário presidente dos Estados Unidos, acabou com a guerra civil e com a escravidão, ao mesmo tempo, depois de fazer pesada barganha com seus adversários no Congresso. Inverteu a votação decisiva sobre o fim da escravidão distribuindo cargos públicos pelo país. O objetivo maior era histórico, moral e até cívico, mas foi alcançado por intermédio da troca de benefícios com os parlamentares. Não é bonito falar disso neste momento de acirramento de ânimos. A intolerância nivela a todos. Compra de votos não é novidade.
Mas as democracias funcionam assim. Regimes ditatoriais também. É por essa razão que todos devem se submeter ao império da lei. Inclusive o pessoal de colarinho branco. Acontece que não existe pecado ao sul do Equador. Boa parte do território nacional se situa nessa posição geográfica.

Os turistas chegam ao Rio de Janeiro e acham interessante conhecer a favela da Rocinha. Levam tiro. A cantora Madonna, vestida com farda militar, aparece ao lado de dois policiais armados de fuzis numa comunidade carioca. Se antes a imagem do Brasil era a da mulata calipigia no carnaval, agora é a de país violento, rico e corrupto.
O DESAFIO DO CABRAL

O ex-governador Sergio Cabral decidiu enfrentar o juiz Marcelo Bretas na sua audiência. Insinuou algo pesado ao dizer que a família trabalhava com bijuterias. Ou seja, conhece o negócio de joias. Sua Excelência não gostou e despachou o ex-governador para prisão em Mato Grosso do Sul. É o atual cenário nacional. Tiroteio por todos os lados, rebeliões em presídios, facções armadas, assaltos espetaculares, mais de uma centena de policiais assassinados no Rio de Janeiro. Os políticos enlameados até a medula entram na cena. É o que antigamente se chamava de imagem do Brasil no exterior.

 

EM FRANGALHOS NO FIM DE OUTUBRO

O país chega ao final de outubro em frangalhos por todos os lados. As notícias não são boas em variados recantos da vida do país. Pode ser, talvez, o esperado fundo do poço. Na política, o presidente Temer só tem futuro. O passado passou. Ele foi testado nos mais severos limites. A ele cabe, agora, reconstruir a base aliada e partir para a aprovação das reformas estruturais, a da previdência em primeiro lugar. A política não respeita o calendário gregoriano. A votação da última quarta-feira pode ter sido o último ato político de 2017. Daqui para frente, o ano eleitoral vai entrar em cena com todo o seu protagonismo.
Não cabe julgar o político Michel Temer. Ele movimentou as peças em sua própria defesa. Trabalhou com objetivo definido. Não chorou, nem exibiu suas dificuldades em praça pública. Operou e conseguiu. Se chefia ou não um governo de ladrões cabe aos responsáveis pelas investigações comprovar. Parte dos colegas de Temer responde a processo penal ou está atrás das grades. O ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, segundo a Polícia Federal, continuava a influir em seu estado, Rio Grande do Norte, apesar de estar preso.
CENÁRIO DESOLADOR

Tudo isso é nebuloso e triste. O cenário nacional é desolador. O país está chocado e deprimido. O bate boca entre ministros do Supremo Tribunal Federal é constrangedor. Este cenário favorece uma candidatura descolada da política tradicional. Mas o nome até agora não apareceu. Há tentativas de alguns apresentadores de televisão.

Na Itália movimentos independentes de artistas deram certo. Na França, Emmanuel Macron emergiu em movimento que não era ligado a nenhum partido político. Ele percorreu a trajetória ao contrário. Primeiro se elegeu e depois criou uma sigla partidária.

Todos os que apostaram contra Temer perderam. Sua sobrevida é o símbolo da vitória. A economia aos poucos reage e o país já enxerga alguma melhoria no médio prazo. Se acontecer, o atual ocupante do Planalto poderá ter protagonismo na próxima eleição.

Se não, o país vai ter que decidir entre alpinistas políticos, oportunistas e populistas de ocasião com forte discurso de esquerda. A única alternativa a este cenário previsível, até agora, é a do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Mas as candidaturas ainda estão em processo de construção. É cedo para colocar as fichas na mesa.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*