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ago 11 2018

ARTIGO: Na terra de Toffoli, Dilma e cabo Daciolo

RUY FABIANO

Uma coisa deve ser dita a respeito do sistema político brasileiro: ele reflete fielmente o que se passa na sociedade.

Em ambos, o crime exerce forte protagonismo. O primeiro debate entre os presidenciáveis, na TV Bandeirantes, na quinta-feira, o demonstrou.

Deu-se no mesmo dia em que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública apresentava os números oficiais de homicídios no ano passado: nada menos que 63 mil e 880 vítimas fatais.

Um recorde que, no entanto, poderá ser superado pelos números deste ano, que prometem. E não é só: são números incompletos, ainda distantes do que efetivamente ocorre.

Registram apenas os que morrem no local do crime. Os que morrem depois, nos hospitais ou já em casa, estão fora dessa estatística macabra. Os especialistas dizem que estes correspondem à metade.

E há ainda os que adquirem lesões irreparáveis e traumas emocionais agudos, que lhes comprometem o resto da existência.

Segundo o Ipea, os homicídios equivalem à queda diária de um Boeing 737 lotado: 175 pessoas a cada 24 horas. Representam quase 10% do total das mortes no país e atingem principalmente jovens: 56,5% são de homens entre 15 e 19 anos.

Em tal ambiente, essa deveria ser a prioridade das prioridades, a ser obsessivamente abordada nos três Poderes – e, sobretudo, entre os presidenciáveis. Tudo o mais viria secundariamente, até porque, para que se discuta o país, e se estabeleçam as outras prioridades, é preciso que se esteja vivo.

O tema, no entanto, compareceu de maneira lateral no debate dos candidatos na TV Bandeirantes. O primeiro candidato a questionar um concorrente, Guilherme Boulos, do Psol, iniciou sua fala clamando por alguém que está preso. Gritou: “Lula livre!”.

Ele mesmo, Boulos, é alguém cuja maior façanha é estar solto. Chegou aonde está transgredindo a lei, com seu MTST promovendo invasões e, mais grave, cobrando aluguel de inquilinos ilegais, sob pena de despejá-los e devolvê-los à condição de sem-teto.

Tornou-se, portanto, titular de um auxílio-moradia criminoso, muito embora afete horror ao auxílio-moradia legal (que, na maioria dos casos, é mesmo indefensável). É o crime sob pretexto ideológico.

Difere, nesse sentido, dos criminosos do Centrão, que convergiram para a candidatura do PSDB, na expectativa de neutralizar a Lava Jato, obséquio que Alckmin, o candidato, garante que não irá atender. Mas não deixa de ter responsabilidade em tê-los como aliados. Por esse motivo, o debate não avançou no tema.

Os políticos, mesmo os de ficha limpa, preferem não aprofundar essa discussão, no receio de que seja estabelecida, perante o eleitor, a conexão entre o que fazem (e sobretudo o que não fazem) e a criminalidade desenfreada.

Isso, porém, está cada vez mais claro. O afrouxamento da legislação penal, ao longo das três últimas décadas, tem tudo a ver com o ambiente de massacre civil que hoje sacode o país. Bandidos comuns e engravatados lutam por uma mesma causa: a impunidade.

Os resultados não são apenas de ordem humanitária. Estão na economia. Quem quer investir num país convulsionado, em que o recém-eleito presidente da Corte Suprema, Dias Toffoli, é alguém que não conseguiu, por duas vezes, passar num concurso de juiz?

É algo tão chocante quanto, por hipótese, ver na Presidência da República alguém como o cabo Daciolo, um evangélico que transgride compulsivamente o 2º mandamento (o de não tomar o nome de Deus em vão). Pensando bem, nem isso seria inédito. Já tivemos, afinal, Dilma.

 

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