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out 26 2018

ARTIGO: País teimoso

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista

O Brasil é um país forte, resistente e teimoso. Consegue sobreviver a seus políticos.

Em agosto de 1961, Jânio Quadros, então presidente, decidiu, num repente, renunciar ao cargo. Ele era chegado a uns goles. Imaginou que o povo iria chama-lo de volta. Não aconteceu.

Viajou para o exílio. Foi sucedido por João Goulart, o Jango, que nunca foi socialista, comunista ou coisa parecida. Era fazendeiro riquíssimo, dono de enormes fazendas e de milhares de cabeças de gado.

Jango pronunciou seu famoso discurso na Central do Brasil, sob inspiração do melhor escocês, e foi derrubado tempos depois.

Ele tinha suas peculiaridades.

Certa feita, Jango viajou a Belém do Pará. Lá teria que fazer um despacho formal com o secretário de Justiça do Estado. O secretário só conseguiu encontrá-lo numa casa de tolerância muito conhecida na cidade. Gente fina.

Ele, aliás, puxava da perna como consequência da sífilis.

Os presidentes brasileiros merecem estudo à parte. O presidente Arthur da Costa e Silva, marechal, era chegado ao carteado, a apostar nos cavalos no Jóquei Clube do Rio e a uns goles do escocês. Assinou o AI-5. Morreu no cargo.

Foi substituído pela Junta Militar que, entre outras realizações, criou a pena de banimento. Ulysses Guimarães se referia à trinca como os três patetas.

Os civis merecem ser lembrados nesta lista de desastres espetaculares. O presidente José Sarney comandou o Brasil por cinco anos e uma persistente inflação que chegou a 50% ao mês. Um espanto.

Quando subiram muito as prestações do pessoal que adquiriu imóveis no plano nacional de habitação, ele atacou a consequência. Extinguiu o BNH (Banco Nacional de Habitação).

Fernando Collor não necessita apresentações. Expropriou a poupança dos brasileiros na expectativa de acabar com a inflação. Não conseguiu. Introduziu na cena nacional Zélia Cardoso de Mello, economista que casou com Chico Anysio, o humorista, teve dois filhos com ele.

Após o vexame do confisco do dinheiro dos brasileiros, Zélia se refugiou em Nova Iorque, onde vive até hoje.

Itamar Franco era um sujeito nervoso, porém bem intencionado. Não estava acostumado aos rigores do protocolo presidencial e decidiu circular pela Marquês de Sapucaí, em pleno carnaval. Ao seu lado apareceu uma linda modelo, sem calcinha, com a genitália à mostra. Festa dos fotógrafos. Foi uma das cenas mais ridículas já protagonizadas pelo poder no Brasil.

A seu lado estava o então ministro da Justiça, Maurício Correa, bastante avançado nas libações alcoólicas.

O presidente Lula cometeu pesados mal feitos na área das finanças pessoais, sempre incentivado pela falta de cultura e pelo escocês.

É imperioso lembrar a inolvidável Dilma Rousseff, a presidenta do Brasil, que sonhou em estocar vento e fez uma saudação formal à mandioca. Incomparável.

O Brasil resiste. Pessoas despreparadas, em todos os sentidos, passaram pelo Palácio do Planalto.

Alguns cometeram barbaridades que prejudicaram os brasileiros. Outros fizeram mal a si próprios. Entraram e saíram da política pela porta dos fundos.

Também é preciso lembrar que os militares estão na política nacional desde a Proclamação da República, no século 19.

As ideias comunistas transitaram pelo país por intermédio dos militares seja na coluna Prestes ou na insurreição de 1935. Carlos Lamarca era capitão do Exército.

A história do Brasil político é manhosa. Os dois primeiros presidentes da jovem República foram militares. Deodoro e Floriano.

A República Velha acabou quando os tenentes, aliados a Getúlio Vargas, derrubaram Júlio Prestes, o presidente escolhido pelo esquema entre paulistas e mineiros.

Os tenentes lutaram pela modernização do país. A coluna viajou de Sul ao Nordeste e conheceu a realidade nacional.

A participação brasileira na Segunda Guerra, ao lado dos norte-americanos, na Itália, teve consequências internas. As ideias da democracia liberal chegaram aqui também por aquela porta.

A população confia nos militares. Henrique Meirelles achou que por causa da crise econômica o eleitor iria chamá-lo para consertar o país. Apostou R$ 45 milhões. Perdeu.

O povo chamou a polícia, ou as forças armadas, na pessoa do capitão, que aparece cercado de oficiais de alta patente.

Não há nada de novo na cena brasileira. A não ser o ostensivo voto contra o Partido dos Trabalhadores.

A classe política foi destroçada na eleição. A elite não conseguiu desarmar o confronto, nem encontrar o caminho do centro. O resultado foi o fim de um ciclo. Uma geração foi aposentada.

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