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fev 20 2014

Artigo: TRIBUTO AO SUZUKI

PAULO ROBERTO JUCÁ

No dia 10 de fevereiro, enrijeceram-se definitivamente as mãos de um dos melhores neurocirurgióes do nosso país: Kunio Suzuki.

Junto com elas, se foi também um admirável ser, do tipo que vem ao nosso planeta para torná-lo melhor. São pessoas que passam pela nossa existência compartilhando o nosso cotidiano, mas sempre parecendo ter mais a dar do que a receber.

Na concepção do nosso amigo Riella: um anjo real.

Conheci Suzuki há 47 anos, no primeiro ano da faculdade de Medicina da antiga UEG, atual UERJ. Éramos calouros, cheios de vida, ainda na euforia do sucesso do vestibular.

Ele, vindo do interior do Paraná, se juntava a um grupo grande de paulistas, goianos, gaúchos, capixabas, um amazonense e a maioria de cariocas, que obviamente contagiaram todo o grupo com o modo de ser típico: gozador, “malandro” e amigo.

Desde cedo percebemos que aquele japonês (o único da turma), apesar de não ser da “turma da bagunça”, quando junto de todos era cordial e sorria sempre.
Lentamente, durante a fase de entrosamento da turma, ele foi incorporado e aceito com o apelido de “Japa”.

Um CDF típico, que revelou suas tendências ao se dedicar apaixonadamente pela Neuranatomia. Ali nascia o neurocirurgião brilhante que foi.

UM CURSO CERCADO DE EMOÇÕES

Os nossos seis anos de curso foram bastante conturbados: perdemos um colega de turma assassinado pelas forças repressoras da ditadura.

Vivenciamos os efeitos do AI-5. Vimos colegas de turma desaparecerem e depois ressurgirem combalidos pela tortura sofrida. O medo era a tônica, mas tudo isso serviu para unir muito a turma.

O ápice aconteceu no dia da colação de grau, em 1972, quando fomos surpreendidos com a suspensão súbita da solenidade antes do juramento final.

Após um Inquérito, a turma foi dividida em grupos que colaram o grau na sala do diretor (esses fatos foram amplamente divulgados em outubro de 2008, numa reportagem do Fantástico).

Definitivamente, tudo isso contribuiu para que nos sentíssemos como irmãos.
Como era esperado, a turma se dispersou. Partíamos para a especialização e o nosso Japa veio para Brasília, fazer residência em Neurocirurgia.

A cada cinco anos nos reunimos e a Internet nos propiciou a oportunidade de nos comunicarmos a qualquer momento.

SUZUKI: CARREIRA NO HOSPITAL DE BASE

Aqui cheguei no início de 1980 e reencontrei o Japa, trabalhando na emergência do Hospital de Base.

Após oito anos, parecia o mesmo: tranquilo, ponderado e muito trabalhador. Mas com uma única diferença: se transformou num extraordinário cirurgião. A cada ano que se passava, nesses 34 anos de convivência aqui em Brasília, melhorava mais, a ponto de se tornar uma referência na sua especialidade.

Para mim, era o velho Japa, amigo irmão, meu porto seguro quanto a qualquer caso complicado da sua especialidade.

Aliás, os casos mais complicados, de uma forma geral, caíam sempre naquelas mãos hábeis. Usufruíam da sua experiência, do seu conhecimento e da sua maravilhosa candura oriental no trato para com os pacientes. Indiscutivelmente, era adorado pelos que salvara.

Tenho que parar, seja porque há limites para o texto, ou também porque ainda não consigo me consolar. Adeus, meu irmão querido , que perda para o nosso povo!

2 comentários

  1. MaUro takao suzuki

    JucÁ,
    Somente o convívio de mais de quatro décadas habilita alguém a descrever um irmão com tanta perfeição.
    Em nome da famÍlia suzuki agradeço maIs uma demonstração de Amor ao Grande suzuki!
    E a vocÊ riella, obrigado pela lembrança do mestre no seu Distinto blog.
    Abraços.
    Mauro takao suZuki

  2. raquel villela pedro

    Belas palavras dr. jucá,

    deus me concedeu uma segunda chance quando me colocou nas mãos do dr. suzuki.
    AINDA CUSTO A ACREDITAR NA ENORME PERDA, toda vez que VEJO AQUELE SORRISO estampado na mensagem de sua missa de sétimo dia.
    sou muito grata ao ilustre dr. suzuki por ter me tratado com tanta COMPETÊNCIA E dedicação, mas principalmente grata pelo carinho com que ele e toda família nos dedicaram, acolhendo-nos como amigos.

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