RENATO RIELLA
Estamos iniciando uma nova semana e o Brasil continua sem solução. Mas precisamos cair em algumas realidades.
A primeira delas é que o movimento das ruas é permanente. Pessoas anônimas aprenderam a convocar o povo para protestar. Vieram a público abusos feitos pelos governantes que estão presos nas gargantas há anos. Ninguém se iluda: as massas vão continuar assim, aperfeiçoando a cada momento as suas ações.
Teremos gravíssimo conflito no dia 30 de junho, domingo, a partir das 19h, no jogo final da Copa das Confederações. Como as forças de segurança se comportarão se houver uma marcha de 300 mil pessoas em direção ao Maracanã?
Não subestimem essa possibilidade. Não subestimem o descontentamento dos brasileiros com a Fifa e com a forma como o Brasil está se comportando diante dessa instituição mafiosa, que vai garfar verdadeiras fortunas em cada estado brasileiro.
A presidente Dilma não parece conhecer o povo. Se ela circulasse ontem pelas cidades brasileiras, veria que praticamente nenhum carro está com bandeirinhas do Brasil ou da Seleção. Veria que não houve foguetes na vitória de ontem sobre a Itália (um jogo inesquecível, sensacional).
Dilma precisa agradecer a Felipão, Neymar (e Fred), pois hoje a coisa poderia estar muito mais grave, se o Brasil já estivesse eliminado na Copa das Confederações.
Apesar das monstruosidades faladas por Pelé e Ronalducho, o povo tem demonstrado honroso respeito ao futebol brasileiro. Não é postura premeditada, nem orientada por marqueteiros, pois essas manifestações são feitas por amadores em tudo.
A Seleção mantém-se como um valor brasileiro, um orgulho nacional, e tem ajudado a reduzir a violência do povo descontrolado.
Ontem, em Salvador, as forças de segurança conseguiram segurar, milagrosamente, cerca de 60 mil pessoas que estavam perto do estádio da Fonte Nova. Mas no Maracanã pode ser diferente. Pode ser incontrolável. E será pior se o Brasil não estiver na partida final (vamos torcer, de verdade, para que vençamos o Uruguai).
JORNADA CATÓLICA É A
PRÓXIMA PREOCUPAÇÃO
Não devemos pensar que os problemas acabarão com o fim da Copa das Confederações. Há um calendário crescente pela frente, a cada momento mais perigoso. A presidente Dilma precisa esquecer os relatórios da ABIN e pesquisar, pessoalmente, o Facebook (ou pelo menos precisa ler este BLOG duas vezes por dia).
Presumindo-se que as estruturas do Estado formal não conseguirão dar respostas mínimas ao povo que está nas ruas, teremos situações imprevisíveis na Jornada Católica da Juventude (isso se a Igreja não se antecipar e não resolver suspender a Jornada).
Dentro do calendário, os governos devem se preparar, desde já, para um novo tipo de comemoração do 7 de setembro. No ano passado, houve tentativa de uma Marcha Contra a Corrupção, mas o pessoal ainda não havia aprendido a convocar manifestantes. Hoje é diferente. No caso do Dia da Pátria, há a gravidade de se bater de frente com as Forças Armadas.
Não esqueçam, também, que o tal Pastor Feliciano, instalado de forma irresponsável na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, resolveu desafiar um contingente crescente formado pelo público GLS.
As próximas Marchas Gays (mais de milhão de pessoas) terão menos festa, e mais política.
Alguém duvida que o projeto da “cura gay”, proposto por esse imbecil em péssima hora, vai revolucionar o mundo dos homossexuais? E por que a presidente Dilma, tendo maioria no Congresso, não se antecipou a esse problema, dizendo a Feliciano a famosa frase: “Por que não te calas, babaca?”
E assim por diante. O calendário seguirá, passando pelo Reveillion e indo em direção à Copa do Mundo de 2014, até as eleições.
COMO REALIZAR ELEIÇÕES EM
2014 NESTE CLIMA?
Imagine realizar eleições nesse clima de descontentamento que domina o Brasil, com partidos dominados por gente sem voto, verdadeiras máquinas de se fazer negócios escusos?
Não dá para prever nada tão distante, até porque antes disso o Brasil já deverá ter mudado.
Presume-se que, em momento próximo, a presidente desperte e produza respostas políticas – e não desastradamente administrativas, como a promessa de importar médicos cubanos.
É preciso demonstrar austeridade extrema, apoio a medidas democráticas (PEC 37, não!), preocupação extrema com a corrupção e independência em relação ao Congresso Nacional, foco principal dos problemas brasileiros.
Os marqueteiros da Dilma trabalharam a sua imagem sob um único foco: o de ótima administradora. Esqueceram outras qualidades que ela tem, subdimensionando uma governante com bom nível de aceitação em todas as pesquisas.
Dilma tem como qualidade o sofrimento que enfrentou na luta contra a ditadura. E, mais importante do que isso, nunca esteve envolvida em denúncias de corrupção.
Fez nome de Dama de Ferro no início do governo e reforçou momentaneamente a imagem de boa administradora, quando demitiu ministros corruptos ou meramente suspeitos.
Mas perdeu tudo isso nos últimos tempos, quando rendeu-se a Renan Calheiros e a outros vilões da política nacional. Ela precisa deixar essa coordenação política desgastante para o vice-presidente Michel Temer, que circula bem por lá.
Esta semana é decisiva para a presidente Dilma, se ela limpar o coração, se perder o orgulho e até se agradecer a Deus pelas manifestações que estão acordando o Brasil.
Dilma precisa reconhecer intimamente que o seu pronunciamento à Nação foi péssimo, sem emoção nem sinceridade. Sem comprometimento com mudança e, mais do que tudo, sem respostas políticas.
Foi horrível ela ter se chamado de “presidenta”, uma imposição feita à Nação que não pegou e que revela como Dilma está distante da opinião pública.
Falta um ano e meio para este governo acabar. A melhor solução constitucional é o diálogo. Sem o diálogo, o que restará?