Toda velhice é relativa. Mas tenho a felicidade de conviver com outros velhos fantásticos, pessoas bastante interessantes, na vida real e no mundo digital.
Hoje lembrei de Everardo Maciel, com quem aprendi uma lição incrível.
Fui secretário de Trabalho e Administração no segundo governo Roriz, década de 90 – um ótimo governo.
Everardo, um pouco mais velho, já com grande renome, era o secretário da Fazenda.
Me cabia redigir as notas oficiais do governo nos momentos de crise. Mas Roriz, muito esperto, chamava Everardo para revisá-las – não no português, mas no conteúdo.
O pernambucano de poucas palavras pegava uma Bic e cortava 20% da nota oficial. Foi quando me ensinou: “Não se dá resposta à pergunta que não foi feita!”
Genial! Aprendi esta lição e já citei o ensinamento como exemplo em palestras, reuniões graves, etc.
É assim: se você for acusado de ladrão, dispensa dizer que não é assassino, nem pedófilo, e que não bate na mulher. Basta provar que não rouba, secamente!
Na minha idade longa, tenho também bons exemplos. Fui chefão no Sistema Fecomércio-DF. Num fim de tarde, estávamos num grupo falando sobre qualquer coisa, quando chegou o garçom, alto, bem vestido, oferecendo café.
Um jovem assessor, elegante, sempre de paletó, hoje atuando como top na comunicação em Brasília, perdeu o tom. Deu a maior bronca pública no garçom mais velho, dizendo que o café estava frio (e nem estava frio!) O profissional saiu tonto, desmoralizado por um quase garoto.
Fez-se silêncio. A equipe observava minha reação. Disse então:
-Na minha juventude, li uma história marcante de Umberto de Campos. Ele contava que tinha um patrão miserável, ao qual era obrigado a servir café. Vingava-se cuspindo na xícara fumegante antes de oferecer o café ao tal homem.
Dito isso, ri discretamente e saí. O rapaz levantou-se, também, com sangue no rosto, e foi atrás do garçom. Todos pensaram: “`Pronto! Foi terminar o trabalho dando um murro no pobre”.
Na volta, o garoto sentou-se calmamente e disse: “Comunico a vocês que fui lá na copa pedir desculpas. Eu errei”.
Falando de velhos, fico emocionado quando lembro uma das frases mais geniais de Nelson Rodrigues. Ele dizia: “Jovens, envelheçam!” (RENATO RIELLA)
