RENATO RIELLA
O Brasil não reconhece ainda, mas já vive um clima de guerrilha urbana. Não existe unidade nem liderança nesta guerrilha, mas existe uma insatisfação comum, diariamente alimentada por erros dos homens e mulheres de exposição pública nacional. A impunidade e a falta de vergonha são destaque no noticiário e nas redes sociais, gerando raiva nos impotentes.
Há situações simbólicas de extrema gravidade, que deveriam ser evitadas. É o caso do uso, pela ministra Ideli Salvatti, de helicóptero da Samu para fazer campanha eleitoral antecipada em Santa Catarina. Imaginem o efeito dessa notícia em grupos insatisfeitos com a realidade política brasileira! E nada acontece. Ninguém paga por isso.
Tivemos agora uma greve de mais de 20 dias nos bancos. Este é o segmento que registra os lucros mais bilionários no país. No entanto, as grandes empresas do setor deixaram o Brasil sem os seus serviços por quase um mês, para continuarem pagando salários baixos aos seus empregados.
Outro fator de revolta é o setor de transporte. Em São Paulo, a cada transtorno nos seus deslocamentos, o paulistano lembra que, nas últimas décadas, mais de um bilhão de reais foram roubados por gente de diversos governos, dinheiro este que seria destinado a investimento no metrô. É o escândalo da Siemens.
Ideli Salvatti, os ladrões do metrô de São Paulo ou os donos dos grandes bancos fingem não ver o crescimento do movimento clandestino chamado de Black Bloc, mas a explosão da revolta é crescente e vai se transformar, de verdade, numa guerrilha urbana. Como aceitar a impunidade de Eike Batista, depois de tanto abuso praticado por este ser extravagante?
Hoje, grupos arregimentados na internet quebram agências bancárias, casas do McDonald, fachadas de prédios luxuosos e assembléias parlamentares. Amanhã, muito breve, começarão a praticar atentados, usando bombas que aprenderão a fabricar pela internet.
Mordomias e serviços deficientes são os principais fatores de ódio nas ruas. Não dá para aceitar que membros do Poder Judiciário recebam milhões de reais a título de ajuda de alimentação. No Congresso, ainda se fala em 14º e 15% salários, o que certamente é uma provocação para quem começará a acordar no escuro a partir da próxima semana, com o início do famigerado horário de verão, a cada ano aplicado mais cedo.
Falta reflexão no Brasil. Dilma Rousseff e Marina Silva, em vez de ficarem se alfinetando a um ano da eleição, deveriam se unir para discutir a perda de controle da massa, nas ruas. Imaginem a explosão de insatisfação no dia da eleição de 5 de outubro de 2014!
Imaginem se milhares de manifestantes resolverem melar o processo eleitoral, impedindo a votação nos grandes centros de concentração de eleitores!
Tudo pode acontecer. Os governos estão preocupados com a ameaça do PCC paulista de sabotar a Copa do Mundo. Devemos nos preocupar, na verdade, com essa crescente presença de Black Blocs, que nem sabemos ainda o que é, mas eles já levam o caos aos grandes centros urbanos brasileiros.
Passou o tempo e nada se fez. Os governos subestimam o crescimento da insatisfação popular e as coisas não melhoram em nenhum setor: saúde, educação, transporte, segurança…
Está ficando perigoso morar no Brasil.