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maio 29 2018

DEPOIMENTO: A Saúde no DF

MADALENA RODRIGUES

Nesse país conturbado, me comovem pequenas coisas que são grandes.

Hoje recebi um telefonema da Secretaria de Saúde do DF, marcando uma densitometria óssea que solicitei há cinco meses.

Tenho conversado com muitas pessoas que dependem do SUS e há anos esperam por exames de imagem, sem previsão de atendimento.

Decidi freqüentar o posto de saúde da 114 Norte, porque sou um dos milhões de brasileiros que, se ainda pagam um plano de saúde, talvez brevemente deixemos de pagar.

E também porque quero ser cobaia do Sistema Único de Saúde.

Quero vivenciar por dentro as mazelas e as virtudes do SUS, esse serviço altamente democrático, desprestigiado pelo próprio governo e pela classe média, e que a maioria dos países não tem.

É uma joia sem polimento, quebrada, mas uma jóia.

Aprendo tantas coisas.

Que o banheiro masculino do posto está interditado há tempos por falta de uma reforma que não sai nunca, apesar dos esforços da gerente.

Que o posto ficou sem telefone por dois anos e continua sem internet – e isso faz uma falta absurda.

Que o trinco da porta da frente está quebrado e que não há bebedouro.

Que são poucos os funcionários, que a maioria atende muito bem e alguns atendem muito mal, até por despreparo.

Que a clientela sofre com a falta de informação sobre consultas e tratamentos que podem acontecer ou não.

Que um morador de rua se senta ao meu lado no banco, com a certeza de que vai conseguir o curativo para uma perna machucada num tombo de bebedeira.

Que depois de alguma espera, uma porta se abre e surge uma médica chamada Indira, que atende bebês, adultos e idosos com o mesmo sorriso.

Que as pacientes se apaixonam pelo ginecologista e lhe levam flores, pois além de bonito, é o melhor que já viram.

Que na farmácia geralmente faltam medicamentos.

Que todas as terças tem terapia comunitária como cura e preventivo para os males do corpo e da alma.

Que não se imprime o cartão do SUS por falta de papel, impressora e tonner e é preciso peregrinar ao sucateado HRAN para conseguir um número anotado num papelzinho, com a recomendação: “Não perca!”

Que se funcionasse o atendimento básico à saúde, mais de uma vez iniciado e fracassado, quase 80% das doenças da população não se agravariam, os hospitais públicos não estariam congestionados e uma internação, quando necessária, não seria tão difícil.

Por isso me emociono quando uma atendente me liga e diz: “Compareça sexta-feira às 8h30, no Hospital Universitário de Brasília. Seu exame foi marcado”.

O país tem jeito. Por ele, por nós, vale a batalha.

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