Estou em Salvador. Bem cedo, fiz três quilômetros a pé da casa do meu irmão Humberto até a praia de Piatã.
No meio do trajeto, andando na ciclovia, num trecho deserto com mato alto, passei por momento surpreendente.
A dez metros de distância, vinha um típico pretinho baiano, bem preto mesmo, baixinho e magrinho. Bermuda e camiseta de operário, mochila nas costas.
Vinha em minha direção, gesticulando muito, com risada aberta. Olhei para trás, mas o alvo era eu mesmo. Claro que não era assaltante! Ninguém nunca me assaltou…
Parou dez segundos ao meu lado e falou forte, gargalhando: “A sabiá passou rente à sua cabeça. Fez tudo para lhe bicar”.
Ele seguiu. Fiquei com cara de bobo olhando “a sabiá” na árvore. Como este estranho sabe que é uma sabiá e não um sabiá?
Gritei para o meu conterrâneo: “A sabiá veio me lembrar que estou vivo!”
O carinha muito alegre, já meio distante, deu uma rebolada de orixá e seguiu rindo.
Pensei: Deus mandou um anjo alado e um anjo negro dizer que minha estadia na Bahia será feliz.
E foi – e será. Na praia, andei muito. Falei com muita gente desconhecida como se fossem meus irmãos baianos. E tomei água de coco a preço decente: R$ 3,00.
Saravá!
(RENATO RIELLA)