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jul 24 2017

DURANTE 20 ANOS, AMEI UM FUSCA QUE SÓ FALTAVA FALAR…MAS ENTENDIA TUDO

Fui dono de um Fusca da cor azul cobalto, que tinha até nome: Raimundinho. Ele atendia bem quando chamado. Em mais de 20 anos, foi meu companheiro para as grandes lutas.

Tenho certeza que gostava muito de mim. Fizemos muitas viagens inesquecíveis pelo Brasil, nem nenhuma batida.

Nas duas décadas de uso, o velocímetro quase explodiu: chegou perto de 1.000.000 de quilômetros. Mas o meu amigo nem chiava. Seguia sempre em frente, solidário e corajoso.
Corria pra caramba, sem cinto de segurança, nem airbag, nem quase nada!

Nunca entrei em Clube do Fusca, ou algo parecido. Mas quando os jornais faziam reportagens sobre este tipo de veículo, sempre me procuravam. Foi minha marca nas décadas de 70, 80 e 90.

Ronaldo Junqueira, diretor do Correio Braziliense, dizia que era uma atitude demagógica minha. E ele tinha um poderosíssimo Landau…Mas, não! Era paixão mesmo. Eu ia para reuniões importantes de Fusca, contrastando com os carrões.

Lembro que comprei Raimundinho em 1970, na Bahia. Ele me trouxe para Brasília em 1974. Ficou comigo até 1991, quando praticamente dei o carro de presente a Evandro, um motorista do GDF. Na época, como secretário do Trabalho do DF, usava muito veículo oficial.

Anos depois, encontrei Evandro. Ele veio de longe gritando: “Secretário, o Fusca ainda roda!” Foi a última notícia que tive do grande Raimundinho.

E por que o nome? Na década de 80, fiz uma viagem a Salvador com o super Fusca. Lá, minha mãe pendurou no espelho do carro um artesanato da cor azul, que era um R de Renato. Na época, propus aos meus filhos dar um nome ao carro. Um deles olhou para o R e disse: “Raimundinho”. O nome pegou. Todos chamavam o carro assim.

Quando sentia que o amigo estava para quebrar, falava com ele: “Poxa, Raimundinho! Não me deixe na mão agora!” E era sempre atendido, com tempo para chegar até a oficina. O maior carinho!

Em 1980, decidi trocar de carro. Grande traição! Comprei uma Brasília superluxo, zero quilômetro. Cheio de recomendações, vendi Raimundinho para o amigo Cláudio Kenj, que trabalhava comigo na empresa de comunicação EBN.

Com poucos dias de uso, a Brasília foi roubada no estacionamento do Ministério dos Transportes. Nunca apareceu. Fiquei alguns dias andando de zebrinha, até que me caiu uma inspiração. Perguntei a Cláudio se ele me vendia de volta o Fusca. Felizmente, topou. Assim, fiquei mais dez anos, feliz, com Raimundinho.

Pouco tempo depois, estava passando perto da Ponte Costa e Silva (hoje Honestino), quando percebi fumaça na parte de trás do carro, onde ficava o motor. Queimei a mão, mas consegui abrir a tampa. Quase morro, pois subiu uma labareda na minha cara.

Fiquei pulando do lado do carro, apavorado, esperando a explosão. De repente, veio um desconhecido gritando: “Sai de baixo! Sai de baixo!” A alma caridosa usou o extintor do seu carro para apagar o incêndio. Salvou Raimundinho.

Foram muitas peripécias. Para completar, lembro quando o Fusca completou 500.000 quilômetros rodados. Passava pelo Setor Bancário Sul, quando recebi inspiração divina para olhar o painel do carro. E constatei: 499.999. Meu Deus! Que marca fantástica!

Fui rodando devagarinho, até que parei no estacionamento do Banco do Brasil para apreciar o velocímetro, que estava marcando o 5 com os cinco zeros. Fiquei maravilhado e pensei: “Pena não ter um celular para fotografar”…mas celular nem existia ainda. A imagem ficou fotografada na mente.

Hoje, de vez em quando passa por mim um Fusca azul cobalto. Grito com o coração: “Raimundinho!” Como não responde, concluo: não era ele. Onde andará? (RENATO RIELLA)

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