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fev 16 2017

E AÍ? VOCÊS JÁ ESQUECERAM O ESPÍRITO SANTO?

O Espírito Santo saiu do noticiário, assim como aconteceu com os presídios. Mas o drama permanece nessas duas situações.

Sobre a crise presente do Espírito Santo, o governador Hartung precisa estudar esta matéria de hoje do jornal A Gazeta, de Vitória.
Não ficou pedra sobre pedra na PM.

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA POLÍCIA MILITAR

Ir para as ruas nunca foi tão difícil. Choro, desmaio, estresse e depressão: cenas vistas no último sábado, quando policiais militares começaram a voltar às atividades depois de uma semana parados, colocaram em evidência um quadro antigo e pouco conhecido – o abalo emocional de pessoas que vivem para proteger a comunidade da violência.

Centenas de PMs foram parar no Hospital da Polícia Militar (HPM) no último final de semana, 120 só no sábado. O número não para de crescer, revela o major Rogério Fernandes Lima, presidente da Associação dos Oficiais Militares do Espírito Santo (Assomes), ao afirmar ainda que tem buscado ajuda tanto para aqueles que estavam aquartelados e decidiram sair dos batalhões quanto profissionais que foram convocados a abandonar as folgas ou férias para reforçar o patrulhamento até então escasso devido à paralisação da categoria.

“Quem voltou para o serviço tem sido hostilizado. É chamado de traidor e de vergonha para a corporação. Atitudes assim contribuíram para o aumento do estresse”, conta o major Rogério.
Membro do Conselho Regional de Psicologia do Estado (CRP-ES), Carolina Roseiro admite ter encontrado no HPM uma situação preocupante ao visitar o local no último domingo.

“Ali há uma situação de emergência psiquiátrica, com alto nível de
sofrimento, tensão e ansiedade. Eles estão vivendo o trauma de voltar para as ruas sem conquistar as condições de trabalho desejadas, tendo ainda que lidar com o julgamento da sociedade não por estarem certos ou errados, mas sendo questionados sobre o próprio papel da PM na segurança da população.”

A psicóloga explica que o tema deve ser discutido no âmbito da saúde pública por ter escancarado um problema de adoecimento grave não vivenciado em categorias que também atuam sob estresse. “Não é um caso isolado. Houve uma ruptura que tem fragilizado a autoimagem construída por esses profissionais”, opina, ao acrescentar a importância de um programa para cuidar da saúde mental dos policiais.

A psicóloga Penélope Zecchinelli também concorda sobre a relevância de prevenir doenças psíquicas, mas diz haver resistência de muitos profissionais em pedir socorro. “Há certa vergonha de se fazer terapia por conta de uma cultura que os oprime e os impede de se cuidar. Talvez o que aconteceu seja uma brecha para se tratar a mente e se recuperar sem ter ninguém apontando o dedo”, analisa.

Para ela, assim como toda a população que está perturbada e que deve demorar para se livrar do pânico, os policiais também vão levar mais tempo para processar o que aconteceu. “Alguns PMs eram um barril de pólvora. Eles enfrentam todos os dias o pior do ser humano que é a violência, um alto estresse. Quando eles começaram a sair dos quartéis, a adrenalina mais baixa causou toda essa descarga de pressão. No dia a dia, o organismo tira forças de onde não existe para dar conta dessa pressão, mas um dia tudo desaba de uma vez.”

A Secretaria de Segurança Pública (Sesp) não informou quantos policiais deram entrada no HPM nem informou quantos tiveram alta. Apenas disse que os profissionais são avaliados por uma junta médica.

Especialista vê estresse pós-trauma

Estresse pós-traumático é o que profissionais da PM têm sofrido na visão da psicóloga e terapeuta do sistema familiar Cássia Rodrigues. Cobranças de dentro da corporação e da sociedade, que se sentiu abandonada, podem ter provocado esse cenário. “Os policiais vivem no linear do estresse e precisam de um acompanhamento para evitar surtos coletivos como esse que temos visto. O que estão passando não é frescura.”

Cássia explica que nem todas as pessoas são resilientes, capazes de sobreviver a traumas, por isso um serviço de prevenção deve ser feito com a categoria.

Preocupados com o que está ocorrendo com os policiais, o Comitê Estadual de Prevenção e Erradicação da Tortura, ligado aos Direitos Humanos, vai investigar se houve abuso com os aquartelados ou com aqueles que estavam de folga. O coordenador do comitê, Gilmar Ferreira de Oliveira, explica que é necessário rigor investigativo para saber se essas pessoas sofreram tortura emocional para retornarem aos seus postos. “Temos que saber se as denúncias são verdadeiras para buscar punição aos responsáveis.”

Policiais sem condições de portar arma

Um policial militar, que não quis se identificar, esteve no Hospital da Polícia Militar (HPM) na noite de domingo, dia 12, e na manhã da última segunda-feira, dia 13. Ao portal G1, ele contou que foi até o local depois de saber que um militar, amigo dele, estava internado na unidade porque havia “surtado”.

Com o celular, ele conseguiu filmar os corredores do hospital lotados. Em um trecho do vídeo, é possível ver uma mulher, com uma camisa de identificação da PM, sentada no corredor e chorando.

“Corredores extremamente lotados, colegas completamente abatidos. Olho fundo, alguns com tremedeira, tomando soro, provavelmente porque fizeram escala de serviço seguida. Alguns estiveram na rua e passaram mal com o excesso de carga horária, além do estresse. Todos alegam que não estão em condições psicológicas de portar arma em serviço, porque sofreram muita pressão”, disse o policial.

Outro vídeo mostra uma policial militar sendo carregada no colo e, em seguida, colocada em uma maca. Uma outra gravação mostra alguns policiais fardados sentados, com as mãos na cabeça, dentro do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar.

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