Os Estados Unidos suspenderam hoje (29) um acordo comercial com Mianmar, onde manifestantes contra o golpe militar voltaram às ruas, apesar da repressão sangrenta no fim de semana que deixou mais de 100 mortos.
O último sábado, Dia das Forças Armadas birmanesas, foi o dia mais sangrento desde o golpe de 1º de fevereiro, quando o exército do país derrubou a líder civil Aung San Suu Kyi, matando pelo menos 107 pessoas, incluindo sete crianças, segundo a ONU.
Mais de 450 pessoas morreram desde então na repressão diária aos protestos, de acordo com o último balanço da Associação de Ajuda a Presos Políticos (AAPP), uma ONG local.
Diante da repressão no fim de semana, os Estados Unidos suspenderam o Acordo Marco de Comércio e Investimento de 2013 até que a democracia seja restabelecida, disse o governo do presidente Joe Biden.
“O massacre de manifestantes pacíficos, estudantes, trabalhadores, líderes sindicais, médicos e crianças mobilizou a consciência da comunidade internacional”, disse sua representante comercial, Katherine Tai.
A decisão retira Mianmar do Sistema Generalizado de Preferências, no qual os Estados Unidos concedem acesso isento de direitos a algumas importações de países em desenvolvimento se cumprirem as regras-chave.
“É absolutamente inaceitável ver violência contra pessoas em níveis tão elevados”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu “mais união” da comunidade internacional para “pressionar”.
O Conselho de Segurança da ONU também vai discutir a situação do país novamente na quarta-feira, segundo diplomatas.
Hoje, China e Rússia, aliados tradicionais da junta militar birmanesa neste caso, pediram moderação.
“A violência e os confrontos sangrentos não atendem aos interesses de nenhum dos lados”, declarou o Ministério das Relações Exteriores da China. O Kremlin, por sua vez, expressou preocupação com o “crescente” número de vítimas civis.
Desde o golpe, 55 jornalistas foram presos e 25 permanecem na prisão, segundo uma organização local.
Ao mesmo tempo, os funerais das vítimas da repressão continuaram.
Na região de Sagaing (centro), centenas de pessoas prestaram homenagem a Thinzar Hein, um estudante de enfermagem de 20 anos que foi morto a tiros enquanto ajudava equipes de resgate no tratamento de feridos.
O Ministério britânico das Relações Exteriores recomendou que seus cidadãos abandonem o país o mais rápido possível após o “aumento significativo do nível de violência”.
No domingo, a embaixada dos Estados Unidos em Yangon pediu a seus cidadãos que limitem os deslocamentos e aconselhou “precaução”.
Os ataques deixaram quatro mortos e nove feridos, segundo Hsa Moo, ativista dos direitos humanos da etnia karen. Quase 3.000 pessoas fugiram da região no domingo e atravessaram a fronteira com a Tailândia.
Um menino birmanês sobreviveu milagrosamente a um bombardeio que matou seu pai, ao destruir o casebre da família em um território karen, perto da fronteira tailandesa, informou nesta segunda uma fonte humanitária.
Segundo a ONG local Associação para a Assistência aos Presos Políticos (AAPP), ao menos 459 teriam morrido.
Com informações de Istoé