RENATO RIELLA
Com autoridade universal e sem admitir contestação, declaro a extinção para sempre de uma importante mídia, que muito nos serviu: o fax, antes chamado de tele-fax.
Desde o início do ano, este instrumento de comunicação está banido da face da terra, mais inútil do que o antigo penico.
Quem tiver em casa algum aparelho de fax está com grande problema, pois ninguém sabe o que fazer desse traste, Será que os carros do SLU recolhem junto com o lixo do dia?
Esta semana, tentei doar três bobinas virgens de papel de fax. Liguei para diversos amigos e ninguém quis. Deram risada, como se estivessem falando com um dinossauro.
Assim, decreto: o fax passa a ficar registrado na história como uma ex-mídia, no nível do telegrama, do telex e da rádio AM. E aproveito para contar três fatos reais sobre o tal fax.
- FUI PIONEIRO NO BRASIL – É isso mesmo! Usei o primeiro fax do Brasil em 1980, na antiga EBN, empresa que fazia o programa A Voz do Brasil.
Na época, compramos os dois primeiros aparelhos do país. O fax vinha dentro de uma mala preta, bem pesada. Um dos aparelhos ficou na redação da Voz. O outro no Palácio do Planalto, operado por repórteres como Escarlate, Tamanini ou Mancasz.
A transmissão de cada página de notícia demorava cinco minutos, mas graças a isso a gente conseguia levar ao ar, na Voz do Brasil, notícias que saíam depois das 19h. Foi um sucesso.
- MAIS DE 500 FAX NUMA SALA – Na década de 90, já com aparelhos de fax mais modernos, criei na Fecomércio-DF um veículo de comunicação em forma de fax-paper.
Durante a noite, entrando pela madrugada, a gente passava por fax um importante informativo da economia local para milhares de telefones.
Numa manhã, o presidente do Sindicato da Informática, Castilho, abriu a sua sala e viu centenas de informativos da Fecomércio espalhados no chão. O fax dele travou e passou a repetir continuamente nosso boletim, até acabar a bobina. Ele ficou puto!
- MUITAS NOITES SEM DORMIR – Um dia, na Fecomércio, uma mulher me procurou, revoltada. Ela havia comprado uma linha telefônica, que antes foi de alguém que recebia de madrugada o fax-paper econômico.
Como a mulher não tinha fax, toda noite, às 3h da manhã, o sistema de fax da Fecomércio tentava fazer três ligações para sua casa. Quando ela atendia, ouvia só o sinal de fax.
A mulher achava que era assombração, até que a companhia telefônica mandou que me procurasse, para tirar seu telefone do mailing.
Assim, o fax acaba, mas deixa saudades e muitas histórias.