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abr 20 2015

GABOLA, FALSI E CULHUDEIRO – TRÊS PALAVRAS INCRÍVEIS DO DICIONÁRIO BAIANO

RENATO RIELLA

Nascido em Salvador, tive minha personalidade formada por três palavras malditas do Dicionário Baiano. Nunca poderia permitir que os amigos me definissem com termos que me marcariam para sempre como um sujeito ridicularizado.

GABOLA – É o sujeito que se gaba demais. Você está numa roda de conversa e chega um gabola. Então, alguém pergunta como foi a Páscoa na casa desse carinha. Enchendo o peito, ele conta que a família recebeu a visita de uma parenta muito rica, que mora nos Estados Unidos.

Esta tal parenta trouxe, num lindo isopor, decorado em vermelho, um ovo da Páscoa de meio metro de tamanho, com expessura de um centímetro. Dentro desse ovão, havia vinte ocos menores, de chocolate maciço, do tipo mais gostoso do mundo.

Seria uma imensa farra, se a história fosse verdadeira. Mas a gente nunca deve acreditar num ser com esse tipo de característica. Espertos, os baianos nunca desmentem o loroteiro. Mas, no grupo, ele passa a ser chamado de O Gabola.

FALSI – Todos nós já tivemos, na vida, alguém que se diz nosso amigo e, na verdade, fala mal da gente por trás.

Aí você está numa roda na qual esse indivíduo puxa o seu saco. Passa um baiano esperto e fala baixinho no seu ouvido: “Falsi mandou lembrança”.

Falsi é a senha para identificar o “amigo” que só lhe trata bem pela frente. Uma ótima definição baiana.

CULHUDEIRO – De todas, a palavra mais temida é a que define o mentiroso crônico, aumentativo de tudo, sempre existente em Salvador. Infelizmente, o uso da palavra culhudeiro está rareando na Bahia, mas era muito útil.

O baiano esperto sabe que vem uma culhuda cabeluda pelo jeito de andar do mentiroso.

Numa mesa de bar, estão cinco amigos. Vem chegando um culhudeiro autêntico, de carteirinha, e alguém provoca logo.

-E aí, tem alguma grande novidade?

-Novidade o quê, rapaz! Aqui é sempre a mesma Margarete Menezes de sempre, e tome fita de Senhor do Bonfim. Mas, pensando bem, aconteceu uma comigo que ninguém vai acreditar.

-Ah! É! O que foi? – pergunta ironicamente a mesa, em coro.

Puxando a cadeirinha da Skol pra trás, ele enche o peito e fala:

-Imaginem que, na sexta-feira, tive uma puta de uma insônia. Seis horas da manhã, decidi andar na praia. Vinha de longe uma mulher alta, de largo chapéu e óculos escuro. Passou por mim. Respeitoso, nem olhei muito, mas parecia um mulherão. De repente, veio uma lufada de vento e o chapeu da coitada pulou fora, caindo longe.

O culhudeiro diz que deu uma corridinha, pegou o chapéu e levou para a desconhecida.

-De repente, rapazes, a grande surpresa. Sabem quem era a mulher?

-Na expectativa de uma grande culhuda, todos berraram: “Nãoooo!”

-Ora, meus grandes amigos, era a Julia Roberts em pessoa. Pegou o chapéu, deu aquela risadona e foi embora rebolando. Sabem quem é ela, claro!

O culhudeiro é assim. Todo mundo fez que acreditou. Depois, alguém pesquisou no Google, descobrindo que a grande atriz estava no Afeganistão, numa ação de solidariedade.

São três tipos baianos. Passei a vida toda tentando escapar de uma dessas definições. Será que consegui?

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