RENATO RIELLA
A todo momento somos bombardeados com informações polêmicas. E muitas vezes, cinicamente, temos de agradecer pelo direito constitucional de não ter opinião.
É o caso das cobaias animais para pesquisas. Já tive cão beagle, que realmente é uma raça definida como o melhor amigo da criança. Mas não nos iludamos: as grandes pesquisas, que vêm salvando bilhões de seres humanos, foram e serão sempre feitas com animais.
Graças a Deus não preciso ter opinião sobre isso. Não sou do governo, não sou deputado – nem sou jornalista militante, não estando subordinado à ética comercial das grandes empresas. Estou livre para dizer: este é um problema de quem achar que deve ter posição. Não tenho.
E posso olhar de frente cada defensor dos animais, pois há quatro décadas sou vegetariano!
LEILÃO DO CAMPO DE LIBRA
É TEMA PARA ESPECIALISTAS
A mesma falta de opinião me atinge quanto o tema é o leilão do Campo de Libra, que o governo vai fazer amanhã no Rio de Janeiro. Pretende-se obter ainda este ano 15 bilhões de reais com a concessão de poços de petróleo fantásticos, a serem explorados provavelmente por empresas chinesas.
Sabemos que a Petrobras está frágil, sem condições de assumir essa responsabilidade de procurar petróleo a sete mil metros de profundidade, no mar, a 160 km da costa. Por que não buscar ajuda lá fora, principalmente se o investimento total pode chegar a 80 bilhões de reais? É muito dinheiro, cara!
No entanto, pessoas inteligentes, consideradas idealistas e bem informadas, mostram que o Brasil não deve seguir este rumo. Haverá uma guerra democrática amanhã no Rio entre os que não querem o leilão (até Black Blocs!), e os que querem, estes últimos protegidos por 1.100 homens de segurança fortemente armados.
Felizmente estou fora do assunto. Imagino que todos os lados estão errados, munidos de viés ideológico torto. Por que preciso me definir a favor ou contra o leilão de Libra? Vou me divertir vendo o resultado no Jornal Nacional. Para mim, isso é pura ficção – como aqueles filmes de hecatombe.
POR QUE PRECISO ENTRAR NA
DISCUSSÃO SOBRE O ABORTO?
Minha omissão, constitucionalmente reconhecida pela Carta Magna, vale também para a questão do aborto. Tive três filhos, tenho duas netas, venho de ampla família baiana, onde esta questão nunca foi discutida. A normalidade física e mental no meu imenso grupo é quase milagrosa. Por que preciso ter opinião sobre o aborto?
Sei que há casos nos quais o feto problemático leva as pessoas a ficarem balançadas a favor do aborto. Mas, sinceramente, não serei mais chamado a decidir sobre isso nesta vida. Sou um pobre jornalista que sobrevive escrevendo em Blog ou no Facebook. Assim, brasileiros e brasileiras, dou carta-branca para decidir por mim. Bom trabalho!
No entanto, registro que vejo muitas famílias ampliarem o seu estado de amor interno ao receberem de Deus um filho com alguma deficiência. E muitos deficientes vivem uma vida de sucesso, integrados e felizes. Alguns são até geniais. Poderiam ter sido “abortados”…
Digo o mesmo sobre essa questão científica das células-tronco. Acredito em tudo o que disserem, nas mais diversas tendências, e rezo pela melhor decisão.
Outro tema pelo qual também me omito é o casamento entre homossexuais. Apenas contesto a lavagem cerebral feita por escritores gays de novelas, tentando influir nas novas gerações – e já escrevi duramente sobre isso.
Nesse particular, abro exceção e tomo partido num tema político. Acho que a TV aberta, no horário até as 21 horas, deveria ter uma limitação de temas maior. Mas quem sou eu para dar palpite sobre censura na TV?
PENA DE MORTE É TEMA
DIFÍCIL DE SE OPINAR
Há tempos me perguntaram se sou a favor da pena de morte. Sinceramente, muitas vezes temos vontade de fazer justiça com as próprias mãos no país da impunidade, mas sei que milhares de inocentes já foram condenados e executados no mundo. E daí? Daí que não tenho nada com isso. Muito obrigado a quem se envolver com o tema e tomar a decisão necessária – seja ela qual for. Boa consciência para todos!
Da mesma forma, não sei o que dizer sobre o voto obrigatório, tanto quanto fiquei dividido sobre o voto do analfabeto.
No que se refere ao financiamento público de campanha, tenho uma opinião bem cínica: se for aprovado, os candidatos ricos receberão a grana do governo e continuarão a tomar dinheiro das grandes empresas, da mesma forma.
Quem achar que a Justiça Eleitoral pode fiscalizar abusos nas eleições deve lembrar de episódio bem recente. Um processo de 2007, que poderia deixar Gim Argello e Joaquim Roriz inelegíveis, acabou arquivado pelo Tribunal Superior Eleitoral porque só agora descobriram que a queixa foi apresentada fora do prazo. A Justiça Eleitoral não existe como justiça.
O Brasil é assim. O melhor é a gente cuidar da nossa vidinha, garantindo a sobrevivência básica e deixando que os Black Blocs despejem insatisfação nas principais avenidas.
O MELHOR É NUNCA LER
A PRÓPRIA BIOGRAFIA
Depois disso tudo, vem o tema do momento. Devo ser contra ou a favor das biografias não autorizadas?
De pronto, respondo que este tema não me atinge. Parece-me impossível que alguém resolva perder tempo com a minha vida de jornalista baiano exilado em Brasília.
Mas me parece que Chico, Caetano, Gil, Djavan e Roberto Carlos têm lá suas razões. Porém, é tão difícil para mim opinar sobre isso quanto ser a favor do aborto. Só previno a eles que, na era do Facebook, não fica pedra sobre pedra – e muita mentira vira verdade, com ou sem biografia. O melhor é não ler a própria biografia.
Deputados, senadores, ministros do Judiciário, autoridades do Executivo e a própria presidente Dilma devem ter grandes compensações para serem obrigados a tratar de questões tão difíceis, que me causariam insônias diárias.
Por mim, prefiro definir que Deus existe. Esta é uma dúvida já superada na minha vida há mais de 40 anos. Sem discussão. Sem negociação. Decidido de cima para baixo. E sem necessidade de projeto de lei. Amém.