FAUSTO MOREY (página eletrônica Contraponto)
Os efeitos da inflação variam drasticamente em função da capacidade que cada indivíduo ou organização tem para se adaptar, se proteger e até mesmo para ganhar com o processo. A inflação é um “imposto confiscatório altamente regressivo” que penaliza as camadas de menor renda da população. Portanto, adotar medidas concretas para mantê-la sob controle é melhorar a vida de todos, mas em especial a dos mais pobres. A história econômica brasileira mostra que em diferentes períodos e com presidentes das mais diversas origens e orientações políticas, o país viveu o pesadelo da inflação alta, de até dois dígitos. Apesar de atualmente ela estar na casa de um dígito, não custa lembrar que o pesadelo começa com um dígito. No momento, quem está de plantão para enfrentar o “dragão da inflação” é a presidente Dilma Rousseff.
COMO É O PROCESSO INFLACIONÁRIO POR AQUI
O processo inflacionário brasileiro é complexo e devido a diferentes fatores, como: pouca concorrência em áreas chaves da economia, infraestrutura deficiente, estrutura tributária inadequada, baixa poupança interna, investimento baixo, gastos públicos ineficazes, educação básica e qualificação profissional deficientes, entre outros. A indexação ainda não foi eliminada e esta cultura gera regras formais e informais de reajustes de preços pela inflação passada: contratos imobiliários, aluguéis, tarifa de pedágio, conta de luz, água e gás, mensalidades escolares, planos de saúde, correção das aposentadorias e de taxas. Alguns preços sobem por ocasião de aumentos paradigmáticos, como é o caso do salário mínimo, e outros apenas pelo fato de ser janeiro… Desde a crise de 2008, o governo brasileiro tem adotado medidas para estimular o crescimento econômico, tais como: ampliação dos prazos dos financiamentos, redução de impostos, aumentos das transferências do Tesouro para o BNDES e para os bancos públicos, elevação dos gastos de custeio e, mais recentemente, a redução das taxas de juros. Com estes estímulos e o aumento da liquidez ocorreu uma alta significativa e acelerada do preço de diversos ativos, incluindo os bens imobiliários e, na seqüência, o dos alugueis (ou vice-versa). Em 2011, ocorreu uma seca nos EUA e em outros países produtores, elevando fortemente os preços das commodities agropecuárias, com forte impacto no preço dos alimentos. A alta de um determinado bem sinaliza um aumento de sua demanda frente a sua oferta. Milton Friedman dizia que a inflação é um fenômeno monetário – deste ponto de vista, uma elevação pontual de preços somente se tornaria generalizada, se a política monetária sancionasse os aumentos.
INÚMEROS OLIGOPÓLIOS OPERAM NO BRASIL
O Brasil é um dos mais fechados países do mundo, onde operam inúmeros oligopólios. A liquidez e os juros baixos facilitam o aumento de preços nos setores onde há menos concorrência. A valorização do Real nos anos passados permitiu a entrada de bens que, concorrendo com os produtos nacionais, ajudaram a conter estes preços, mas com prejuízo para indústria nacional. Em 2011 e 2012, o governo estabeleceu um conjunto de barreiras às importações e agiu para desvalorizar o Real, levando o dólar a subir de R$ 1,60 para o patamar atual de R$ 2,05, com reflexos nos preços. O mercado de trabalho está apertado – estamos a pleno emprego, e os salários têm subido acima das taxas de produtividade – os preços dos serviços dispararam e ainda continuam a subir. O BC já havia dito que traria a inflação para o centro da meta em 2011. Repetiu a dose em 2012, mas a inflação atingiu 5,84%. Agora diz que o fará em 2013 – é uma aposta de risco. Há uma crença que, postergando aumentos como o das tarifas de ônibus e do Metrô, a situação está sendo “gerida” – a inflação é insidiosa e vai se instalando de mansinho e, de repente, se torna a “dona do pedaço”. Aí, para colocá-la sob controle novamente será um sofrimento enorme – não dá para arriscar. Quem viveu sabe do que se trata e ainda se lembra bem. Quem não viu não queira estar a bordo… |