RENATO RIELLA
Eu sou um cara legal. À medida que envelheço, tento ser mais legal, humano, consciencioso, etc.
Mas, a cada momento que leio o noticiário sobre a epidemia de ebola na África, me sinto menor. Me sinto inútil, talvez desprezível.
Neste momento, há missionários, médicos e enfermeiros, que nem africanos são, morrendo de solidariedade, tomados pela doença mais horrível que já surgiu na humanidade.
O que leva um ser humano a correr tão grande risco para socorrer pessoas de outro continente, de outra raça e de outra cultura?
Devemos lembrar que os africanos, de certa forma, estão disseminando uma epidemia por não aceitarem procedimentos sanitários básicos.
Enquanto isso, estou aqui em Brasília, absolutamente protegido de tudo. Por que esses seres missionários são tão diferentes? Serão santos?
Dito tudo isso, faço um questionamento: e se, no equilíbrio do Universo, esses homens e mulheres que desafiam o ebola forem carimbados como suicidas?
É a outra leitura do fenômeno. Tenho eu o direito de pedir para morrer na África, como missionário deslocado para combater a contaminação?
Assim, a gente vai sendo bombardeado por notícias ruins e não sabe o que pensar. Isso sem falar da Faixa de Gaza.
Antes, viver era muito perigoso.
Agora, viver está sendo chocante, difícil de suportar.
