O número de mortes de pessoas negras decorrentes de ações de policiais aumentou 5,8% entre 2020 e 2021 no Brasil, aponta o Anuário do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), divulgado hoje (28).
A mesma estatística aponta queda de mortes entre a população total (5%) e os brancos – nesse caso, de forma mais acentuada, houve redução de 30,9%.
Ainda segundo a pesquisa, os pretos e pardos, que representam cerca de 54% dos brasileiros, foram 84,1% das vítimas de intervenções policiais no ano passado.
A manutenção do perfil dessas vítimas e a concentração da maioria esmagadora delas de pessoas pretas não são acidente, segundo Dennis Pacheco, pesquisador do FBSP, mas uma demanda social por vigilância, punição e aprisionamento de corpos negros. Uma demanda à qual a polícia responde, prossegue ele, restabelecendo estereótipos históricos na sociedade.
“Portadores dos estigmas de perigosos, improdutivos e indesejados, sintetizados pela polícia na noção de ‘fundada suspeita’ usada para justificar que sejamos desproporcionalmente abordados, presos e mortos”, afirma Pacheco.
O ouvidor das polícias de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, celebra a queda nas estatísticas gerais de letalidade policial, mas afirma que, sendo o Brasil uma sociedade racista, esse problema “perpassa por todas as relações, interpessoais e humanas, e isso alcança as instituições. Não é diferente na atividade policial”.
Lopes afirma que o País precisa absorver a ideia de que o fato de ser preto ou pobre não pode implicar ser alvo da atividade policial e de outras instituições.
“É preciso ressignificar o conceito de cidadão na sociedade brasileira, e nós, negros, somos mais vítimas das ações policiais, do sistema judiciário”, atesta o ouvidor.
Segundo os pesquisadores responsáveis pelo Anuário, a fim de compreender o motivo da maior vitimização de pessoas negras, argumentos equivocados costumam girar em torno de três afirmações: negros seriam mortos mais vezes por serem maioria da população; por serem pobres; ou pela atividade criminosa supostamente ser o motor da economia em periferias ou favelas, onde há maior concentração da população negra.
Esse tipo de julgamento representa um racismo velado, de acordo com Dennis Pacheco, que tenta encobrir e deslocar o debate de suas questões centrais.
“Somos julgados e mortos por características como nosso tom de pele, a textura de nossos cabelos, nossas origens, a forma como nos vestimos, falamos e andamos. Temos nosso direito à vida, o mais fundamental de todos, negado cotidianamente pelo racismo. A mudança só pode começar por aí”, diz.
Fonte:R7 -Guilherme Padin