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jun 14 2013

Não há como impedir manifestação. Vivemos numa democracia

RENATO RIELLA

 O Governo do DF precisa ter melhor estratégia para conviver com as manifestações de rua. Não há como proibi-las, fisicamente falando. E, politicamente, é uma aberração histórica ver os governos democráticos, que já foram petistas na origem, querendo impedir o povo de se manifestar num sábado.

A Copa do Mundo chegou ao Brasil recheada de componentes vergonhosos, deixando grande parte da população revoltada. Essa revolta vai explodir nos próximos meses. Se todos os governos não reavaliarem sua sanha repressionista, o país vai virar um barril de pólvora.

Não há transparência em nenhum negócio relacionado com a Copa, em nenhum estado. E quando aparece publicamente algum fato, é assustador, como a entrega do Maracanã para o mega-especulador Eike Batista – que ainda por cima está em dificílima situação financeira.

O governador Agnelo Queiroz não deve subestimar a mobilização popular que está sendo feita pelo Facebook. Não sei se o GDF tem a penetração necessária nessa rede, mas estou mergulhando no Face e antevejo multidão de manifestantes, saindo às ruas sem comando, amanhã de manhã, nas áreas centrais da cidade. É de arrepiar qualquer Fifa.

 

COLLOR CAIU DEPOIS DE UMA

MOBILIZAÇÃO SEM COMANDO

Lembro de 1992. O famigerado presidente Fernando Collor pediu ao povo brasiliense que fosse para a Esplanada dos Ministérios de roupa verde-e-amarela, para defender o seu mandato. De repente, um movimento sem líderes e sem Facebook espalhou-se e milhares de brasilienses ocuparam a avenida vestidos de preto. Foi fator importante para a derrubada desse presidente pernicioso.

No entanto, esse movimento só foi possível pela visão democrática e pela experiência política do então governador Joaquim Roriz.

Fiz parte da equipe de secretários que se reuniu com o governador para discutir a repressão policial contra essa marcha de roupa preta, na véspera do ato.

Houve secretários que se pronunciaram na reunião defendendo a proibição ao protesto. Na minha vez de falar (já contei isso aqui), pedi demissão, alegando que minha família estava, naquele momento, coordenando um grupo que iria se manifestar na Esplanada contra o horrível Fernando Collor.

Depois de todas as opiniões, Roriz não aceitou minha demissão e determinou ao secretário de Segurança, coronel do Exército João Brochado, que garantisse a segurança dos manifestantes na Esplanada, garantindo também a liberdade de protesto. Apenas pediu que se mantivesse o Palácio do Planalto protegido com ampla força policial. Isso foi feito, derrubando o Collor. O povo era mais importante do que o presidente.

O secretário Sandro Avelar, policial federal à frente da Secretaria de Segurança Pública, precisa agir com a mesma eficiência do seu antecessor da década de 90, o genial João Brochado.

Cabe ao GDF definir a área passível de manifestação e deixar o povo protestar contra esse Marin que é presidente da CBF, contra os preços dos estádios, contra Eike Batista, contra a venda de Neymar para o Barcelona, contra o preço dos ingressos e até contra o aumento dos ônibus (que não houve em Brasília).

Castro Alves já dizia: “A praça é livre como o céu é do condor”.

Por bem ou por mal o povo vai sair às ruas. Basta ver no Facebook. Devemos rezar para que a primeira morte não ocorra em Brasília. Digo isso porque vejo os governos despreparados para lidar com o povo e dispostos a tudo para impedir protestos.

A propósito, o também famigerado José Roberto Arruda caiu quando mandou a cavalaria da PM passar por cima (literalmente, passou) de estudantes que protestavam perto do Buriti.

O maior bem que o brasileiro conquistou nas últimas décadas foi a democracia. E a juventude, que não viveu a ditadura, por incrível que pareça arrisca a vida por essa liberdade.

Sem liberdade não precisamos de Copa.

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