«

»

ago 30 2017

O GOLPE (INOCENTE) DO PANO DE PRATO

Sei que o Brasil é um país injusto, com muitas carências, mas preciso controlar meus remorsos urbanos. Vejam esta pequena história.

Há algumas semanas, à noite, estava sozinho no Restaurante Green aqui de Brasília. Concentrado, respondia a uma cobrança chata no What.

De repente, senti a presença de um rapaz magro, moreno, de 16 anos, que falou com expressão triste: “Compre um pano de prato feito por minha mãe!”.

Tomei um susto, e ainda por cima não tinha os R$ 5,00. Portanto, respondi meio irritado: “Fica pra outra vez!”

Quando o carinha foi embora, olhei de longe e fiquei com remorso. Mas já era. Fica mesmo pra outra vez.

Ontem, num restaurante de quilo, estive sentado com meu amigo João Leal. De repente, um outro jovem chegou firme pra mim e disse: “Compre um pano de prato feito por minha mãe!” – na mesma entonação do outro. Pensei até que fosse o mesmo.

Tirei R$ 5,00 e comprei. Leal olhou bem pra ele e disse: “Sua mãe deve ter muitos filhos, não é?”

O carinha pegou minha notinha e saiu rumado – como se diz na Bahia. Leal ainda gritou: “São mais de 20 filhos, não é?”

Fiquei perplexo. Meu amigo pediu para examinar o meu pano de prato. Explicou que era uma peça industrial, produzida por algum espertalhão, que botou um exército de adolescentes na rua para enganar os bobos: eu!

Lembrei do remorso anterior. Na saída, dei de presente meu lindo pano de prato, feito com bordado vermelho e verde, para a moça do caixa. E falei sozinho:

-Vá jogar remorso na cabeça da sua mãe, seu merdinha! (RENATO RIELLA)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*