RENATO RIELLA
No mês de janeiro, vi duas graves distorções de foco no que se refere aos direitos humanos.
A primeira delas foi a campanha Je Suis Charlie, que se transformou num aval, verdadeiro cheque em branco, a humoristas irresponsáveis.
A campanha deveria ser canalizada tão e somente contra o terrorismo (que nenhum ser humano de bom senso defende).
É claro que ninguém se solidarizou com os três franceses mortos pela polícia e que tinham praticado atos de terrorismo. Seria impossível apoiar suas barbaridades.
Mas dirigir o foco para o fortalecimento do jornal Charlie Hebdo, hoje com sete milhões de exemplares, serve para unir grupos muçulmanos que antes se odiavam e agora têm um ideal comum: destruir os novos donos do Charlie (e vão conseguir!)
No Brasil, acabamos de ver coisa semelhante. É claro que o nosso país não aprovará, pelo menos na nossa geração, a pena de morte.
No entanto, foi torta, desproporcional e até ridícula a solidariedade oficial à execução de um traficante de drogas contumaz, nefasto, na Indonésia. Três dias de luto! Que vergonha!
A presidente Dilma Rousseff tinha obrigação institucional de pedir o indulto da pena de morte – mas apenas isso. Chamar o embaixador brasileiro e ameaçar suspender relações com a Indonésia são ações que o mundo vê e nem acredita, de tão erradas.
Dilma e muitos brasileiros, a título de reagir contra a figura da pena de morte, acabaram comprometendo-se com um bandido internacional, cujo nome desmoraliza o Brasil.
E assim, repleto de emoções exageradas, o mundo vai vivendo, esquecendo que tivemos em 2014 o ano mais quente da humanidade.
Estamos perdendo o planeta, jogando fora o único habitat de que dispomos, mas somos a favor do Charlie e do traficante de drogas. Muito bonito, tudo isso!