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jan 19 2018

O que é preciso aprender com o Partido Novo

RICARDO MIRANDA (Site Os Divergentes)

Adoro conversar com motoristas de táxi. Sim, eu ando de táxi. Quando não estou no ônibus ou no metrô. No Rio de Janeiro, onde moro, ou em qualquer viagem que faço, puxo assunto. Ele liga o taxímetro, eu ligo meu politicômetro. Desde os primeiros passos como repórter aprendi que pouca gente entende mais de política do que um taxista. O sujeito passa o dia inteiro ligado no rádio – em notícias mais do que em músicas, pode acreditar. Ouve e conversa com uma quantidade enorme de pessoas que, do banco de trás, transmitem sua visão de mundo. Forma sua própria opinião. E, claro, tenta catequizar o passageiro desavisado. Religião? Futebol? Não, o assunto preferencial segue sendo política.

Numa corrida entre Copacabana e a Barra da Tijuca, no conforto do ar condicionado, em um dia de verão com sensação térmica de 45ºC, conversei com um jovem morador da periferia do Rio, muitíssimo bem informado, que, ao saber que eu era jornalista, me deu um conselho: preste atenção no Partido Novo!

O novíssimo Partido Novo, da supostamente renovada safra de legendas nacionais, cujo futuro a Deus e ao eleitor pertence – repare que são todas de direita, como o Livres e o Patriotas, e os chamados “movimentos cívicos”, como o Agora!, do Luciano Huck, e o Acredito -, foi fundado em 2011 com apoio de empresários no Rio, base em São Paulo e teve seu registro deferido pelo TSE só em 2015. Se as redes sociais são um termômetro, é assustador. Mais de 1,5 milhão de pessoas segue o Novo, nome de guerra do partido, no Facebook. Preste atenção, 1,5 milhão! Ou contrataram gênios em mídias sociais, ou montaram um esquema azeitado de robôs ou tem coelho nessa cartola. O PT e o PSDB têm, cada um, cerca de 1,2 milhão de seguidores.

Bolsonaro? Nem pensar. Meu taxista-analista político disse que votará em – compreensível que muitos de vocês não tenham ouvido falar nele, essa é a ideia – João Amoêdo para presidente, candidato-boi de piranha do partido ao Planalto, anunciado em novembro passado. O empresário de 55 anos, ex-Citibank, tem um currículo invejável, bem longe da política. Ex-BBA-Creditansalt, ex-vice-presidente do Unibanco, ex-membro do conselho de administração do Itaú-BBA, é atualmente membro do Conselho de Administração da João Fortes, função que ocupa desde 2011.

Outro bam-bam-bam do partido é Ricardo Coelho Taboaço, que também construiu carreira no alto escalão de instituições financeiras. Foi sócio diretor do Grupo Icatu e vice-presidente do Citibank. O partido sonha em fazer 20 a 30 deputados federais nas próximas eleições. A ideia, claro, não é fazer o próximo presidente, mas projetar a legenda.

O Novo é o típico partido que surfa na onda da anti-política, de tão desmoralizada que está, embora já tenha compreendido que, para entrar no jogo, precisa dela. Entre os fetiches para atrair eleitores está a ideia de que, para se filiar ao partido, é preciso “preencher um questionário”, como me explica meu consultor para assuntos além-trânsito, uma espécie de triagem que significa só admitir aqueles que têm ficha limpa. Para as eleições de 2018, a legenda adotou um método, no mínimo, inusitado, para escolher seus candidatos ao Congresso: se inspirou na seleção dos trainees de grandes empresas.

O processo seletivo do Novo conta com várias etapas, que passam por análise curricular, teste sobre valores e entrevista por uma banca examinadora. No total, 460 pessoas de 13 estados se inscreveram neste ano. Todos os pré-candidatos do Novo tiveram que pagar uma taxa de inscrição de 600 reais. Metade do valor para aspirantes aos legislativos locais.

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