FAUSTO MOREY Em meados de 2001 ocorreu uma crise no Brasil que afetou o fornecimento e distribuição de energia elétrica. A falta de chuvas deixou várias represas vazias, impossibilitando a geração de energia. No início da crise se pensou em adotar longos cortes forçados de energia elétrica em todo Brasil, apelidados de “apagões”. A população identificou o governo FHC como responsável pela falta de planejamento e de investimentos na geração e distribuição de energia, fato muito explorado pela oposição a época.
Os tais cortes foram evitados graças à adesão da população a uma campanha para economizar e ao manejo adequado do racionamento. Foram estabelecidos benefícios aos consumidores que cumprissem as metas e penas àqueles que não reduzissem seu consumo de energia. O racionamento durou até o meio do mês de fevereiro de 2002 e afetou drasticamente a taxa de crescimento da economia que despencou para 1,3% em 2011, quando em 2000 havia sido de 4,2%. Em julho de 2001, para reduzir a dependência do ciclo das águas foi iniciado um grande programa de investimentos em usinas termoelétricas movidas a gás, carvão e óleo combustível. De 2001 a 2012, frente a um crescimento do PIB de 48%, a capacidade instalada de geração cresceu 75% e a de transmissão de energia entre as regiões, 68%. Hoje as hidroelétricas respondem por 65% da geração e as termelétricas movidas a gás, petróleo, biomassa, carvão mineral por 25% – mais do dobro do volume de 2001 (tabela 2 e gráfico 1).
2013, TERMELÉTRICAS A TODO VAPOR, LITERALMENTE Desde outubro passado o governo aumentou a produção das termelétricas que já operam perto do limite – caso a estiagem se prolongue ou ocorra falta de gás, a única saída será a de adotar um plano para economizar energia, mas o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, afirmou que: “Os reservatórios estão realmente abaixo do normal. Mas é um fato que sabemos que pode ocorrer. Sabemos que a hidroelétrica é uma fonte que depende da hidrologia. E a hidrologia é algo que varia. Para sanar isso introduzimos mais térmicas no sistema. Isso nos permite ter certa tranqüilidade, no racionamento em 2001 não havia quantidade significativa de oferta e de linha”. “Um dos problemas… era porque no Sul estava sobrando energia e não tínhamos linhas para transmitir para outras regiões”. “A situação do sistema elétrico brasileiro hoje é estruturalmente diferente daquela de 2001, hoje o país conta com capacidade instalada de termelétricas e linhas de transmissão que garantem o atendimento do sistema, mesmo em cenário de reservatórios hidrelétricos baixos.” Ainda assim, o cenário é preocupante, pois os reservatórios estão no pior nível desde 2000, período que precedeu a crise e o racionamento de 2001 (tabela 1) e segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, as chuvas podem ficar abaixo da média no 1º trimestre de 2013 nas regiões Nordeste, Norte, Sudeste e Centro-Oeste do país. Em 2008 o nível dos reservatórios também era crítico, mas as chuvas de meados de janeiro aliviaram a situação. A presidente Dilma Rousseff afirmou em entrevista no dia 27 de dezembro ser “ridículo” dizer que o Brasil teria risco de falta de energia. De acordo com Gabriel Salas e Pedro Manfredini do JP Morgan, a chance de racionamento de energia permanece inferior a 10%, porém estamos no meio de um período atípico de águas, no qual choveu apenas 60% da média – haverá muita apreensão nos próximos 2 meses. Deve-se evitar um clima de preocupação excessiva, porém, a mera discussão do problema pode causar impacto negativo nas expectativas dos investidores. Ironicamente, o “santo salvador da pátria” de 2012 foi o baixo crescimento econômico. O que teria ocorrido se o país tivesse crescido os prometidos 4,5%… Está cada vez mais distante o sonho de um “pibão“ vigoroso em 2013. |
O consultor Fausto Morey publicou originalmente este comentário na sua página digital Contraponto.