O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irritou parceiros na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao sugerir ser possível que o Brasil seja admitido na aliança. O líder americano mencionou a possibilidade durante a visita do presidente Jair Bolsonaro à Casa Branca na terça-feira (19).
Trump prometeu classificar o Brasil como major non-Nato ally, o que daria ao Brasil privilégios militares similares aos recebidos pelos aliados dos americanos na Otan. A Argentina é o único país latino-americano que recebeu até agora esse status, de caráter mais simbólico.
Com o status, o Brasil poderia, por exemplo, participar oficialmente do desenvolvimento de tecnologias de defesa, realizar exercícios militares conjuntos e receber ajuda financeira para a compra de equipamento militar.
Na sede da Otan, em Bruxelas, representantes da aliança ressaltaram ontem que o Tratado do Atlântico Norte não prevê a admissão de mais países não europeus. Liderada por Washington, a organização tem atualmente 29 membros plenos, todos, com exceção de Canadá e Turquia, na Europa.
Além disso, a obrigação de prestar assistência no caso de ataques armados a um dos membros da organização seria dificultada pela localização geográfica do Brasil. Tal obrigatoriedade só se aplica a países acima do Trópico de Câncer, e o Brasil está bem abaixo dele, afirmaram os representantes da Otan.
O governo da Alemanha, país-membro da Otan, também afirmou que o acesso à organização está reservado a países europeus. A porta-voz do Ministério do Exterior alemão, Maria Adebahr, destacou o artigo 10 do tratado de fundação da Otan.
O documento estabelece que os países-membros podem, se houver unanimidade, convidar para entrar na aliança “qualquer Estado europeu que esteja em condições de favorecer o desenvolvimento dos princípios do presente tratado e de contribuir para a segurança da região do Atlântico Norte”.
Adebahr sublinhou que isso não significa que a Alemanha não considera o Brasil um parceiro relevante. “Como maior país do continente latino-americano, o Brasil tem para nós uma especial importância”, disse, citada pela agência de notícias Efe.
O governo francês também chamou atenção para as regras da Otan em reação às declarações de Trump sobre uma possível adesão do Brasil.
“A Otan é uma aliança de países vinculados por uma cláusula de defesa coletiva, cujo campo de aplicação geográfica está claramente definido do Tratado de Washington de 4 de abril de 1949”, afirmou uma porta-voz do Ministério do Exterior da França, país-membro da aliança.
Uma porta-voz da Otan não quis comentar as declarações de Trump. Mas fontes da organização ouvidas pela agência de notícias alemã DPA ressaltaram que a aliança já estabeleceu parcerias com uma série de países mundo afora, como Colômbia, Japão, Austrália e Afeganistão.
Segundo as fontes, a aliança estaria disposta a cooperar mais estreitamente com o Brasil, se o país tiver interesse. No entanto, a possibilidade de alterar o Tratado do Atlântico Norte para que o Brasil possa se tornar membro da organização foi classificada de improvável, já que para tanto seria necessária uma decisão unânime de todos os aliados.
Fundada quatro anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, que devastou o continente europeu, a organização tinha como objetivo original favorecer o bem-estar e a estabilidade na região. Inicialmente, 12 países faziam parte da aliança, entre eles Canadá e EUA.
Fonte: DW