«

»

abr 29 2017

ONTEM, FIZ UMA GREVE A FAVOR DA FELICIDADE, SAINDO COM MINHA NETA CECILINHA

Na sexta-feira de “greve geral”, enquanto o Brasil se transformava numa Pasárgada ao contrário, decidi passar sete horas da minha vida grudado com minha neta Cecilinha.

Ela está fazendo nove anos e ganhou de presente o primeiro celular da vida. Merecia uma solenidade!

Levei a garota de farda por esta imensa Brasília, até mesmo para uma complexa reunião de trabalho de duas horas. Ficou elegantemente sentada, pesquisando coisas no meu laptop, com fone de ouvido, sendo motivo de admiração para todos.

A jornada de amor começou ao meio-dia em ponto. Peguei Cecilinha (mesmo nome da minha mãe) no Colégio Leonardo da Vinci, de surpresa. “Vô, você aqui?”

Saímos juntos para a Claro do Lago Sul, onde tivemos atendimento Nota 10. Adoro o meu Sansung. Ela ganhou um aparelho desta marca, tamanho médio – e ficou muito feliz. Falou assim: “Será que perco ele antes dos seis meses?”

Quando saímos da loja, não sei porque, Cecília disse: “Um dia vou comprar também um celular pra você!”

Respirei fundo, meditei, e respondi humildemente: “Quando eu estiver bem velhinho, vou precisar mesmo que você compre um telefone igual a este pra mim. Desde já, obrigado”

Com o celular funcionando, minha pequena neta teve de assinar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta). Mas como? Com nove anos? Explico…

Desde que nasceu, Cecilinha acorda absolutamente cedo. Atualmente, programou-se para acordar sempre às 5h30 da manhã, pois tem “muito o que fazer”.

Aos domingos, levanta ainda mais cedo, às 5h15, tomando os pássaros como despertador. Sem aula, sobra mais tempo “para fazer coisas”. Dá para entender?

O Termo de Ajustamento de Conduta do celular diz: “Você está proibida de ligar ou passar mensagem para qualquer ser humano antes das 7h”. Ela vai cumprir. Aliás, quando acorda de madrugada não incomoda ninguém – e deixa a irmã menor, Clara, dormir mais tempo.

Com o celular na mão, levei Cecília para almoçar num “restaurante de luxo”: o Lake’s. Comeu picanha fatiada, com arroz integral e batatinha frita. Adorou! Ela tem classe. Se comporta como uma lady, nos seus 1m34.

Perto de sair, o dono do Lake’s, meu antigo amigo Zely, nos cumprimentou. Falei do aniversário e ele anunciou: “Vou mandar fazer um petit gateau caprichado em homenagem a Cecilinha” – cortesia da casa.

Chegou a sobremesa linda, com uma mensagem “Parabéns” escrita no prato com geleia vermelha. A aniversariante ficou emocionada.

Na saída, comentou: “Este é mesmo um restaurante fino”. Perguntei a Cecilinha o que impressionou ela, além da ótima comida. Explicou:

-Quando veio o doce, fiquei apavorada. Pensei que aquele bando de garçons ia fazer a maior barulheira, cantando Parabéns. Mas, não! Só um veio e me cumprimentou. Os restaurantes horríveis fazem a maior confusão, com dez garçons chamando a atenção de todo mundo. Até amarram balão na coitada da aniversariante. Tenho o maior medo disso”.

E saímos pelo mundo, evitando as zonas de Síria/Líbia.

De noite, fui levar a supergarota em casa. Enquanto a gente instalava aplicativos no novo aparelho, Clara (quatro anos) observava com dois olhões bem abertos.

Falei assim: “Quando você estiver maior, compro um celular também”. Ela me surpreendeu, respondendo com leveza: “Sei! Quando eu for uma pré-adolescente, você me dá um!” Será que ouvi bem? Ela disse mesmo pré-adolescente?

Depois, com uma risada linda, perguntou: “Mas vai continuar me dando presente em dinheiro?”

-Sim, Clara! Mas você sabe comprar seus próprios presentes com o dinheiro que lhe dou?

-Claro que sei, claro que sei!

E ficamos assim. Felizes para sempre – num Brasil nem tanto. (RENATO RIELLA)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*