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jun 12 2017

OPINIÃO: A PINGUELA

AYLÊ SALASSIÊ F. QUINTÃO

Com sua ação “direta e efetiva”, os Black Blocs são os que melhor expressam  o estado de espírito da população brasileira hoje. Eles dão a dimensão exata do grau de frustração dos cidadãos, irritantemente realimentados pelas tais frentes amplas, “cabeças pretas” – filhos dos “cabeças brancas” – , centrões,  autênticos da esquerda e da direita radicais.

O cidadão, indignado e sem reação, se vê submetido a uma violência simbólica, porém explícita.  Irrealismo, ficção?… Nada mais surrealista do que a travessia dessa pinguela  .

O quadro é desolador! Obras paradas, investidores recuando, lideranças presas, especulação e desemprego crescendo, insegurança individual ,  corrupção e violência física escancarada.  Como é difícil olhar o futuro, e projetar um 2018 mais saudável.

Era preciso ganhar este segundo semestre de 2017. O próximo ano é o das eleições. A confusão começará cedo.  No meio dessa crise, gerada por governos irresponsáveis, acompanha-se, com tristeza,  o agravamento dos problemas, cujas soluções vão sendo postergadas nas agendas públicas, para serem retomadas em momentos mais propícios, mas que tendem a ser esquecidos.

O que esperar da manutenção de Temer na chefia do Estado?  Só a história mesmo poderá dizer depois, muito depois…

Mantida a atual estrutura econômica e de Poder, não dá para prever exatamente o que vai acontecer.  Para começar haverá uma grande frustração dos perdedores, tanto de um lado quanto do outro,  envolvendo forças das mais diversas, conforme mostra essa tal Frente pelas Diretas, como se seus lideres tivessem a solução .

Na esteira do investimento no caos, estão as mesmas pessoas , os mesmos grupos explorando o silêncio – Porta aberta atrai ladrão – da população, para dar legitimidade à corrupção generalizada.

Ninguém faz uma Frente pela governabilidade. Consumada a cassação,  das frustrações surgirão novas frentes de luta – a luta permanente – , mesmo que não se tenha clareza do por quê se luta.

Nesse momento, a  explicação, que nenhum partido e político quer assumir, está na existência da Lava Jato e até do juiz Sérgio Moro. São inimigos Número Um dessas frentes. É tudo muito cínico. As frentes estão presas aos submundo da política e da economia, onde se unem os mais espertos.

É difícil, portanto, imaginar o que vai acontecer. Com Temer ou sem ele, tende-se a  entrar num túnel sem fim, numa explosão de contradições, dentro das quais serão enterradas conquistas históricas e a autoestima.

Há possibilidade de voltar à estaca zero de todo esse trabalho de  recuperação das instituições, de avanços e recuos em direção as reformas da Previdência, Trabalhista, e Política , cuja discussão tem custos elevadíssimos para a Nação.   Quem conduziu o País a isso devia estar mesmo preso. E, na cadeia, ser obrigado a trabalhar para se sustentar.  Todos, todos eles, é a opinião da maioria silenciosa.

Diria que a tal Frente pelas Diretas não tem pretensões democráticas, saneadoras, nem está preocupada com os desempregados ou mesmo com o futuro. Seus organizadores,  esforçam-se para fugir da Justiça, mediante a mobilização popular a alimentando a esperança de poder ainda tirar um naco do Poder, tão logo o governo Temer caia.

Ameaças desrespeitosas contra instituições e a Nação são feitas à luz dos holofotes da Tv: “Os juízes que querem me condenar poderão ser condenados amanhã” ou  “Os que fraquejaram na delação terão de prestar contas”. Parece tratar-se mesmo de organizações mafiosas atuando no submundo da política.

Se Temer  ficar, o quadro não será diferente. Sob a oposição dos perdedores, mesmo em frangalhos , já que a democracia não chega a despir  os sujeitos de tudo, vai ter de recomeçar a discutir as reformas, agora sob o fogo amigo.

Atolado também na corrupção – e até por ingenuidade – Temer não terá mais a confiança da Nação para apoiar suas iniciativas reformistas. Para governar, vai precisar do respeito público, nem que seja pelo medo, no que pode vir a depender de Raul Jungman.

Enredados assim  nas teias da politicagem, tudo vai perdendo o significado, gerando a desilusão até na crença de que  “Deus é brasileiro”.

Além dos Black Blocs, uma música  de Chico Buarque ajuda a entender o cenário vivido hoje  no País, embora não seja o autor o melhor exemplo, no momento: “O Padre Eterno que nunca foi lá / Olhando aquele inferno vai abençoar/O que não tem governo nem nunca terá/O que não tem vergonha nem nunca terá/O que não tem juízo…”. 

Assim, por falta de cautela, vai se naufragando. Caminha-se, lento e gradual, pela pinguela, em direção ao inusitado ou à “oportunidade de um recomeço”, segundo prega o  ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.

*Jornalista, professor, doutor em História Cultural.

 

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