FERNANDO COELHO
Medo e desespero. É o que nos une.
A Rocinha, a grande e imutável trincheira dos bandidos sem camisa, descalços, sem estudos, sem nunca terem tido educação, os assassinos brutais que, no lugar de discursos usam fuzis calibre 7.62, usam a chantagem e cobram pelo ir e vir de milhares de moradores sem esperança, trabalhadores rasgados de desconforto individual.
Criminosos da gíria fácil e do funk transviado, que maltratam crianças, velhos e incendeiam de pavor o futuro.
Mas o que dizer do Congresso Nacional? Quantos morremos por omissão dele, que legisla em causa própria? Quantos morremos esfacelados em vãs ideologias?
Quantos milhares morrem à míngua, esqueléticos, por falta de comida, atendimento médico, aposentadoria decente, falta de remédio nos prontos socorros, falta de escolas e creches?
Quantos milhões padecemos por desvios de dinheiro público dessa gente que elegemos de quatro em quatro anos?
Duas gigantescas quadrilhas nos assediam e humilham. Uma, descalça e selvagem, de homens sem títulos, brutos, de cara suada e marcada por um ódio indefinível.
A outra, de ternos bem cortados, sapatos caros, fala empolada, gravata italiana, de avião pra cima e pra baixo. E fotos bonitas na parede.
Estamos acossados em fogo cruzado. É preciso lutar pela democracia, pela liberdade e pela cidadania. Não estamos vivendo nenhuma novela.
Nós é que somos os dublês da desgraça, de uma sociedade perniciosa e desumana. E só.