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ago 04 2013

PAPA FRANCISCO IMITA A TIA AURORA

RENATO RIELLA

 A Bahia é a terra de todos os santos. Quando vejo o Papa Francisco, até penso que ele nasceu em Salvador. Isso por causa da tia Aurora, irmã mais nova da minha mãe, que morreu há dez anos, mas antecedeu todos esses comportamentos do Papa argentino.

Há algum tempo, quando fui a Salvador, duas mulheres me procuraram para relatar graças fantásticas alcançadas por rezarem para tia Aurora. Tomei um susto! Muito humilde, ela certamente voltaria à Terra para repudiar qualquer processo de canonização. Portanto, ninguém tente isso. Mas é a santa da família, de plantão para qualquer acionamento.

Tenho histórias incríveis. Tia Aurora viveu mais de 40 anos fazendo atendimentos gratuitos em todas as faixas sociais baianas, sem discriminação, desde o início do dia, até a noite. Bordava bem, cantava e tocava violão. Visitava pessoas doentes e levava um pouco de felicidade a pacientes terminais, pobres ou ricos. Mas era desligada dos detalhes do mundo.

 

CANTOU COM A MAIS FAMOSA

SEM SABER QUEM ERA ELA

Um dia, na casa do meu pai, apareceu na TV a figura vibrante da Ivete Sangalo. “Ih! Cantei ontem com esta moça!”, disse tia Aurora, surpreendendo a família. Como não mentia nunca, qual a explicação?

Sem afetação, contou que foi visitar dona Maria Ivete, uma mulher que estava muito doente. Ficou ao lado da cama tocando violão e cantando músicas antigas. De repente, chegou a filha, de bermuda, sandália havaiana e cabelo preso, que pegou o violão e cantou também algumas músicas. Parece que uma delas foi o fantástico Hino do Senhor do Bonfim. E tia Aurora não perdeu a oportunidade de dizer: “Até que você toca bem!”  Era santa total, em plena atividade, deixando dona Maria Ivete feliz no seu sofrimento.

Noutra época, estava andando na Pituba, perto da tradicional igreja, quando foi abordada por dois pivetes. Andava sempre elegante, com roupas que costurava em tom branco e azul, e usava uma carteirinha com dinheiro, terço e objetos básicos. Seria vítima de assalto, se não passasse outro pivete, gritando: “Ei! Esta é a tia Aurora”. Saíram os três correndo, dando risada. E ela não alterou a pulsação, pois vivia protegida por todos os santos.

Um dia, de manhã, chegou na Igreja da Pituba para ajudar em algum preparativo. Felizmente conhecia bem Roberto Carlos, da TV. Ele estava sozinho num canto, rezando. Tia Aurora, com grande naturalidade, aproximou-se, ajoelhou-se num banco próximo e permaneceu ao lado do famosíssimo, impedindo que alguém viesse atrapalhar a prece.      

 

TRABALHAVA DE GRAÇA

DURANTE TODO O DIA

Passou a vida toda à disposição da humanidade, anonimamente. Tinha uma pequena pensão, deixada pelo pai, pois na juventude foi considerada incapaz de trabalhar. Mas nunca parou, prestando serviços na igreja, nas áreas sociais da Pituba e na família, diante de qualquer emergência. E doava qualquer bem que caísse nas suas mãos, às vezes de forma exagerada.

Tudo o que o Papa Francisco faz tem a marca da tia Aurora, que comia pouco, não usava nada minimamente luxuoso, andava a pé bastante, tinha um equilíbrio impressionante e despertava alegria em todos nós, com bom humor. Magrinha, foi muito bonita na juventude. Mais velha, tinha cabelo cinzinha cortado estilo Chanel e rosto sem rugas.

Nunca falava mal de ninguém e via qualidade em qualquer pessoa. Havia sempre o que se destacar num ser humano. Mesmo os mais chatos, despertavam nela a lembrança de um ato antigo de solidariedade ou de amor.

Perto de morrer, foi procurada por um senhor meio rico, que frequentava a igreja da Pituba, viúvo há dois anos. A própria tia Aurora nos contou, rindo, que recebeu proposta de casamento deste homem, que revelou-se grande admirador dela. Respondeu com carinho que tinha uma missão na vida e não abria mão. O pretendente a noivo ainda argumentou: “Podíamos fazer interessantes viagens!” Mas nada.

Quando estava com 70 anos, parecia estar muito bem. Acordou de manhã, tomou um pouco de café com leite e alguns biscoitos. De repente, disse que sentia-se tonta. Sentou num sofá e revelou estar cercada de meninos, tendo comentado: “Gosto tanto de crianças. Vieram me buscar”. E morreu. Foi um derrame fulminante. Passagem direta para o céu, sem escala.

Até hoje é citada pelos padres nas missas. E serve de proteção para todos nós. Nem conto o que já fez pela imensa família…

Escrevo tudo isso para elevar a fé em um ou outro leitor. E quem enfrentar alguma grande dificuldade, não se acanhe: peça socorro a tia Aurora. Só não chame ela de santa. Isso, não! Nunca aceitaria.  

 

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