RENATO RIELLA
Os hábitos culturais se modificam e a Páscoa é bom exemplo. Hoje o coelhinho dominou, mas houve uma época em que a gente flagelava Judas nas ruas, no Sábado de Aleluia.
Vivi ótimos momentos em Salvador, na década de 60. Em diversas esquinas, a garotada (e adultos, também) montava bonecos com roupas velhas e sapatos usados, recheados de papel-jornal.
Essas figuras eram os Judas, que a gente pendurava onde pudesse, a 1,5m de altura, para linchar, vingando a morte de Jesus. Alguns eram até incendiados.
Cada um de nós comparecia com cabos de vassoura e dava aquela surra no Judas, até que este caísse ao chão, massacrado, esbagaçado, escorrendo “sangue” feito de papel.
A molecada convencionou que, ao meio-dia do sábado, raiava a Aleluia. E tínhamos de comemorar, batendo nas portas das casas com madeiras, estraçalhando latas de lixo, entre outras ações de vandalismo infantil. Era um terror!
Na noite do Sábado de Aleluia, havia festas. Era comum se ler o Testamento do Judas, que dedicava coisas ridículas para uns e outros, despertando risos inocentes.
Já redigi muito Testamento de Judas. Neste momento, reedito a velha prática, dando alguns bons exemplos.
TESTAMENTO DO JUDAS
E para a Dilma,
que não tenho o que deixar,
deixo uma usina de petróleo,
pra ela se lambuzar.
Para Aécio,
difícil de se presentear,
deixo as praias do rio
para ele farrear.
Para Lula,
sempre bom de se lembrar,
deixo um dedinho de plástico
para sua mão remontar.
E assim vai!….
Fiquem com seus coelhinhos.
SÓ MÚSICA CLÁSSICA NA SEXTA-FEIRA SANTA
Ligue o rádio, já! Vai ver que cada emissora, mesmo as mais avançadas, e até a CBN, estão tocando músicas clássicas. Estamos na Sexta-Feira da Paixão e não fica bem passar Popozuda e outras liberalidades. O povo está sangrando junto com Jesus.
Fiquem tranquilos. Isso não está acontecendo hoje, mas era assim na década de 60 para trás, em todas as rádios. Só música clássica pesadona, durante toda a Sexta. Dá para acreditar, garotada?
