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jun 20 2013

PASSE-LIVRE, NÃO. É UM INCENTIVO À CORRUPÇÃO

RENATO RIELLA

Passe-livre, não! É uma aberração. Tecnicamente, prejudica o sistema de transporte coletivo e gera corrupção, beneficiando gente que não precisa desse benefício.

A garotada que está protestando nas ruas só vê o aparente. Por trás, há muito mais coisa. Passe-livre é errado.

Mesmo assim, o Governo do DF decidiu, em reunião com representantes do Movimento Passe Livre (MPL), iniciar os debates com a sociedade sobre “a possibilidade da implantação de um sistema gratuito para todos os usuários do transporte público do DF”.

“Este governo não é contra a tarifa zero. Não acreditamos que seja inviável, nem impossível. O que acreditamos é que essa é uma questão que a população deve discutir, debater amplamente já que teria profundos impactos na vida de todos”, disse o secretário de Transporte, José Walter Vazquez Filho.

Se é assim, aceito o desafio: passe-livre, não! E explico por que.

Nenhum serviço público deveria ser gratuito, pois isso banaliza o atendimento, gera desperdícios e acaba beneficiando grupos que se organizam para tomar dinheiro do Estado (o meu plano de saúde, por exemplo, deveria pagar ao governo se eu fosse atendido em hospital público).

O passe-livre vai incentivar a criação de empresas diversas, que venderão serviços ou comércio subsidiados por nós, os contribuintes.

Pregadores, vendedores de balinhas e pedintes vão circular ainda mais livremente nos ônibus e os motoristas não terão defesa. Hoje, podem exigir que essas pessoas paguem pelo menos as passagens – embora incomodem os outros passageiros. Com passe-livre, o interior dos ônibus vai virar uma feira.

Há muitos outros argumentos. O ônibus gratuito gera corrupção profunda no sistema do Estado.

 

ELIMINAR SUBSÍDIO DOS ÔNIBUS

FOI GUERRA GANHA EM 1992

De 1991 a 1994, no segundo governo Roriz (que foi ótimo, com 80% de avaliação positiva), fui secretário do Trabalho, parte do período acumulando também a Secretaria de Administração.

Naquela época, os ônibus no DF eram profundamente subsidiados. O então secretário dos Transportes era o engenheiro Newton de Castro. Trabalhei com ele intensamente na suspensão desse subsídio, o que conseguimos em 1992. E sofremos ameaças de morte, com proteção policial durante algum período, pois enfrentamos gente poderosa (inclusive o Sindicato dos Rodoviários).

O governador Joaquim Roriz, que dizem ser tão comprometido com os grandes grupos, não vacilou em assinar ato dizendo que Viplan, Pioneira, etc, não receberiam mais dinheiro do governo. Teriam de viver das passagens cobradas aos passageiros. Foi uma guerra, mas vencemos.

Por que essa medida tão antipática? Ora, porque as planilhas apresentadas pelas empresas de ônibus eram recheadas de fraude. E as áreas diversas do governo não tinham como controlar essas contas falsificadas.

Se houver passe-livre, dentro de algum tempo o GDF estará pagando por viagens não realizadas, passageiros-fantasmas e outras aberrações que o Estado não tem como fiscalizar (embora garanta que sim).

Além do mais, é uma atitude desleal em relação ao resto do Brasil. Do Oiapoque ao Chuí, governadores, prefeitos, deputados e senadores querem cortar os R$ 11 bilhões que Brasília recebe por ano do Fundo Constitucional do DF.

Se o GDF pode dar passe-livre aos ônibus, é porque tem dinheiro sobrando e deve dispensar esse Fundo. Além do mais, não se justifica que Brasília, com renda per capita que é o dobro da de São Paulo, ofereça ônibus de graça a uma população já em situação especial.

O passe-livre é uma burrice. Poderia escrever metros de textos para provar isso, mas tenho de sair agora para trabalhar na rua.

O secretário de Transportes, José Walter, pode entrar na história se conseguir concluir com êxito a substituição das empresas de ônibus que “exploram” o serviço há anos.

Mas se implantar o passe-livre, entrará na história das anedotas de Brasília, uma cidade muito engraçada.

E mais, não podemos cair na tentação de usar o passe-livre para calar as discussões sobre o custo e a manutenção do Estádio Garrincha. Essa é uma questão que deve ficar restrita às discussões sobre a Copa do Mundo e nada tem a ver com transportes.

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