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abr 24 2015

PERPLEXIDADE: SEM DITADORES, O CAOS NOS PAÍSES ÁRABES

FRANCISCO SEIXAS DA COSTA

LISBOA – Nos últimos dias, todos fomos abalados pela tragédia humanitária no Mediterrâneo.

Assistimos aos esforços dos dirigentes europeus para montarem uma operação que, simultaneamente, abra as portas da Europa a um número limitado de migrantes que lhe chegam do norte de África, somada a medidas restritivas ao tráfico de pessoas que, praticamente todas as noites e desde há anos, tentam dar às costas do eldorado continental em que vivemos, para atravessar a fronteira da miséria.

De certo modo, é uma decisão “envergonhada”: procura evitar-se a repetição das tragédias mas, no fundo, o que se tenta é pôr cobro à entrada desses migrantes.

Como “compensação”, cria-se uma espécie de quota, que sossega as consciências. É esta a solução possível? Haveria outra? Deixar entrar toda a gente? Não sei.

Se olharmos bem para a origem geográfica destas migrações, facilmente concluiremos que é a permissividade da costa da Líbia que hoje as favorece.

Naquele país não existe algo a que possamos chamar um Estado, pelo que os cidadãos da África subsaariana que o atravessam têm bem melhores condições do que as que existiam no tempo de Kadhafi para se entregarem às mãos dos traficantes, para as suas sinistras jornadas marítimas.

Recordo que fomos “nós”, a Europa, quem liquidou Khadafi.

Daqui decorre a segunda questão, a que também não sei responder.

A rejeição das barbáries de Saddam Hussein sobre o seu povo esteve por detrás da justificação do seu derrube. Desaparecido o ditador, o Iraque e a região caíram num caos e, centenas de milhares de mortos depois, ali se abriram as portas para o sinistro Estado Islâmico.

No Egito, todos olhamos com esperança para a “primavera árabe” que emergiu da praça Tahrir, que derrubou Mubarak e possibilitou eleições.

Depois, foi o que se viu: a experiência democrática levou os radicais islâmicos ao poder, os quais, de imediato, tentaram hegemonizá-lo. Regressaram os militares e o mundo ocidental parece hoje aceitar, embora de sobrolho democrático cerrado, o novo regime ditatorial.

Quem é que quer responder a esta questão? É preferível conviver com um ditador, por mais sinistro que seja, que preserve uma estabilidade nacional e regional pela força ou, por um proselitismo democrático, devemos arriscar abrir as portas ao caos?

Temo que, um destes dias, venhamos a ser tentados a repetir a frase de Franklin D. Roosevelt sobre o ditador nicaraguense Somoza: “Ele pode ser um filho da puta. Mas é o nosso filho da puta”.

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