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out 19 2013

POLÍCIA MILITAR, UM BEM OU UM MAL?

RENATO RIELLA

Polícia para quem precisa de polícia.

Há décadas, nós brasileiros ouvimos e cantamos este refrão dos Titãs – sem discordar. Mais recentemente, cantamos com o Rappa: “Paz sem voz não é paz, é medo”.

No meio de tanta discussão poético-musical de alta qualidade, permanece uma instituição centenária chamada Polícia Militar – a PM.

Nas últimas semanas, o policial militar tornou-se o principal protagonista dos principais fatos brasileiros, passando a todo momento da condição de vilão a herói – e vice-versa.

De vítima a causador de tragédias.

De autoridade a bandido.

De prendedor a preso.

E tudo isso com baixíssimo salário (com exceção do Distrito Federal, que paga bem).

 

NA UPP, POLICIAL MILITAR SONHA

EM SER O CAPITÃO NASCIMENTO

No Rio, o major Edson comandava uma UPP na favela da Rocinha, mas agora está preso na Penitenciária de Bangu, acusado de torturar e matar o pedreiro Amarildo. O jovem PM sonhava em ser o autêntico Capitão Nascimento do cinema.

Edson, militar de elevado nível, foi antes destaque quase cinematográfico nas provas desumanas de formação da PM. Levado para tomar conta da Rocinha, montou uma equipe de policiais duríssimos, na luta contra o crime organizado.

A ele foi dito que Amarildo guardava a chave do paiol de armas na Rocinha. Sentindo-se em meio a uma guerra, prendeu o pedreiro e errou na dose, causando a morte do morador da Rocinha. Não ficou provado em nenhum momento que Amarildo trabalhasse para os bandidos. E deu no que deu.

No outro lado do foco, virou herói em todo o mundo o capitão Antonio, de São Paulo. Ele estava de folga, quando viu um motoqueiro sendo assaltado por dois rapazes. Não vacilou e deu dois tiros num dos bandidos. Houve discussão sobre o fato, filmado pelo próprio assaltado, mas acabou prevalecendo o bom senso. No fim, o capitão até recebeu elogios públicos.

Há poucas semanas, acompanhamos o drama do garoto suicida, de 13 anos, que matou os pais, um casal de PMs de bom nível dentro da corporação. Acompanhei esse caso paulista e constatei a surpresa de muitas pessoas ao perceberem como a família vivia em condições de relativa pobreza.

É assim que a Polícia Militar tem aparecido diariamente na nossa vida, sempre em situações de contraste entre o bem e o mal, sacrificada e agressiva, sem que passe por uma discussão mais profunda.

A mesma sociedade que exige proteção total contra os desmandos dos Black Blocs impede que o policial militar use sua arma para se defender. E condena publicamente o PM que exerce a força contra o chamado vândalo.

REGISTRE ESTE FATO: NINGUÉM

FOI MORTO NAS MANIFESTAÇÕES

Dentro de três dias, a Polícia Militar do Rio terá nova exposição mundial. Milhões de pessoas acompanharão pela TV a repercussão dos conflitos que acontecerão contra o leilão dos poços de petróleo de Libra. O que acontecerá nesse evento que pode assegurar muitos bilhões de dólares para o Brasil?

Devemos urgentemente abrir discussão sobre a instituição Polícia Militar, fazendo um registro justo e necessário. Em centenas de gravíssimas manifestações, desde junho deste ano, não morreu ninguém diretamente atingido por repressão policial, em nenhuma cidade brasileira.

Por sinal, a principal vítima dos conflitos foi um policial militar atingido por coquetel molotov no Rio. Pela TV, vimos este jovem fardado queimando de cima para baixo, durante alguns segundos, até ser removido para algum hospital. Nunca se disse se sobreviveu, se ficou deformado e nem se voltará a vestir a farda.

Devemos registrar também que as chamadas UPPs, instaladas em dezenas de favelas do Rio, são exemplo de experiência de pacificação que o Brasil repassa para todos os países onde o crime organizado faz ocupações urbanas. E a PM é a peça mais importante desse processo.

É preciso discutir com seriedade a existência da Polícia Militar no Brasil, começando pela unidade salarial. Se a instituição é mais estratégica do que nunca neste momento, precisa pagar bem aos seus integrantes.

Da mesma forma, é preciso repensar a estratégia de ação nos grandes confrontos, sejam estes localizados em áreas urbanas tradicionais, em favelas ou em zonas de periferia.

Nas favelas e no confronto com os Black Blocs, vemos hoje claramente o pavor dos jovens policiais. Eles podem ser vítimas dos disparos potentes dos traficantes, como podem morrer diante de coquetéis molotov, a cada momento mais aperfeiçoados. Não dormiria tranquilo se tivesse um filho na PM!

Se escaparem dos atentados, os PMs podem ser presos por agir de forma mais rigorosa. No entanto, vimos recentemente, em episódios onde brasileiros foram mortos, que as polícias da Inglaterra e da Austrália não vacilam na abordagem de suspeitos, custe o que custar.

No Brasil, até onde podemos ir? Esta é a grande resposta. Recentemente, até o uso das algemas foi limitado pelo Supremo Tribunal Federal, deixando os agentes desprotegidos diante de criminosos alucinados.

O certo é que a maior parte da sociedade não admite que os bandidos voltem a dominar os morros. Nem aceita que Black Blocs quebrem lojas nas principais avenidas do país.

E a Polícia Militar, como fica? Alguém precisa responder a esta pergunta.

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