RENATO RIELLA
Rodrigo Rollemberg parecia ter todas as qualidades para ser um grande presidente da República, dentro de oito ou 12 anos. Mas um possível estadista se revela muito antes, se for inteligente e corajoso para superar as crises.
Vemos hoje que Rollemberg não demonstra ter vocação para estadista, diante dessa crise monumental do funcionalismo, pela qual o DF ameaça parar se houver corte de salários.
Dizem que a iniciativa radical é exclusiva do Ministério Público do DF, que resolveu questionar no Tribunal de Justiça os reajustes aprovados pela Câmara Legislativa e implantados pelo famigerado governo Agnelo desde 2012, com vigência ainda em 2015.
São pelo menos 32 categorias de servidores, das mais diversas áreas, que podem ter seus salários reduzidos, se a Justiça decidir nessa direção.
BRASÍLIA PRECISA DE UM ESTADISTA
O governador Rollemberg está perdendo a oportunidade de se definir como um estadista, ao lavar as mãos diante dessa crise que transformará o DF num lugar impossível de se morar.
Fui secretário de Trabalho do DF (acumulando a pasta de Administração) durante quatro anos, na década de 90, quando a inflação ultrapassava os 40% ao mês. Negociei pessoalmente, de forma extenuante, cerca de 200 movimentos grevistas.
Como negociador único do GDF e das suas estatais, aprendi que o mais importante é dar resposta política a cada movimento. Diante das impossibilidades, buscava em longas discussões saídas alternativas, sabendo que não podia deixar o DF parar.
Uma coisa aprendi: devemos reconhecer o papel institucional do Ministério Público, identificando no entanto os exageros dessa rapaziada muito jovem e sem experiência de vida.
QUERIAM TIRAR OS PUXADINHOS…
Há cerca de 10 anos, o Ministério Público andou alardeando que iria tirar todos os puxadinhos do Plano Piloto, atingindo milhares de estabelecimentos comerciais.
Na época, publiquei análise duríssima, que foi reproduzida em diversos locais, prevendo que isso não aconteceria.
Lembro que perguntei quem seria macho suficiente para banir patrimônios da vida de Brasília, como o Piantella, o Beirute, o Libanus e muitos outros negócios que ocupam os chamados puxadinhos.
Passou o tempo e nada aconteceu, porque Ministério Público não tem poderes para jogar bombas atômicas como a de Hiroshima, que acabou de repente uma guerra mundial.
NÃO DÁ PARA REPROVAR TODO MUNDO
Tenho outra experiência de vida interessante. Estudei durante sete anos nos Maristas de Salvador. Muito inquieto, me dedicava a outras atividades e aprendia apenas o que dava para passar de ano. Detestava estudar!
Quando temia ser reprovado, observava a sala de 40 alunos e analisava cada um. Se houvesse pelo menos 20 em situação pior do que a minha, estava tudo resolvido, pois nenhuma escola reprovaria a metade de uma sala.
Essa experiência escolar serve para consolar os servidores que temem a redução de salários defendida pelos promotores. Se fossem duas ou três categorias, talvez passasse a proposta radical. Mas não há macho que consiga reduzir os salários de 150 mil servidores.
Quanto ao governador Rollemberg, está perdendo o bonde da história.
Não conseguirá reduzir a remuneração de quase todo o funcionalismo. E ficará mal com aqueles que vão acompanhá-lo durante três anos e dez meses.
Dê-me uma bacia para lavar as mãos…