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dez 15 2013

REFLEXÕES SOBRE A VELHICE – LEIA! – NADA DE FILOSOFIA – SÓ HISTÓRIAS ENGRAÇADAS, MAS MUITO ÚTEIS PARA TODAS AS IDADES

RENATO RIELLA

Austregésilo de Athaide foi presidente da Academia Brasileira de Letras até quase os 100 anos. Quando comemorou os 90, disse uma frase memorável: “Velho é quem tem dez anos a mais do que eu”. Naquela época, até Oscar Niemeyer era mais novo…

A velhice é recheada de relatividades. Aos 64 anos, por exemplo, me sinto jovem. Emagreci cinco quilos este ano, voltei a correr e jogo futebol com uma turma antiga, misturada com filhos e até netos.

Porém, visto de fora, as coisas são diferentes. Por exemplo, estou hoje em Salvador. De manhã, bem cedo, saí a pé da casa da minha irmã Vera. Andei e corri uma longa distância até Piatã. Tomei duas horas de banho de mar e depois resolvi voltar para casa de ônibus.

Ao entrar no veículo, dei R$ 4,00 à cobradora, que me devolveu R$ 2,00 e moedas diversas. Logo concluí que paguei meia por ser velho. Aproveitando a oportunidade, sentei num banco da terceira idade – que ninguém é de ferro! E vim refletindo, na janela preferencial, olhando as ondas e o sol.

 

VISTO DE FORA, ACREDITE:

VOCÊ ESTÁ ENVELHECENDO

Quando tinha entre 40 e 50 anos, minha forma física era invejável. Cabelo pretinho, barriga côncava (pra dentro) e muita disposição. Corria dez quilômetros no Parque da Cidade às terças e quintas com a jornalista Rosinha (Maria Rosa Costa). Não resisto à imodéstia: corrida de “Prêmios Esso” – hahaha.

Nessa época, passei umas férias em Salvador. Fui para a praia de Piatã com meus dois filhos, então adolescentes. Enquanto tomávamos banho de mar, falei pra eles: “Vou conseguir uma vaga naquele time para jogar”. Deram risada, sem acreditar.

Pelada na Bahia se chama de “baba”. Era um baba de negões tipo Tchan, com trave de madeira improvisada, sem juiz nem camisas. Todos gritam muito, xingam muito e correm mais do que a bola. É uma coisa meio infernal. Mas convivi com esse clima estranho durante muitos anos, criado que fui em beira de praia na Bahia.

Dirigi-me até um dos goleiros e fiquei atrás da trave, falando bobagem. O cara era mais velho do que a média, meio barrigudo. Contei que morei muitos anos por ali e que gostaria de jogar um pouco para meus filhos me verem atuando.

Não deu outra. Em pouco tempo, um dos atletas estava “mortão” e me deu a vaga. Experiente que sou, me situei na parte durinha da areia e ficava por ali, na boa. Recebia a bola, limpava a jogada e passava rápido para um dos “negões do Tchan”, que vinha sempre em altíssima velocidade: Gol! Gol! Gol!   

Em boa forma, aos 40 e poucos anos, de vez em quando eu também voltava para ajudar na marcação. Circulei até pelo meio de campo, entrosadíssimo.

Em determinado momento, me coloquei estrategicamente na ponta esquerda, solto na areia durinha. Veio um magricelo driblador que passou por um, passou por outro e perdeu a jogada. Egoísta, não percebeu minha presença livre para lhe devolver a bola em direção ao gol.

Foi neste momento que um beque enorme, fortão, de sunga marrom (tom sobre tom), saiu correndo desde a defesa e berrou bem alto no ouvido do carinha que havia perdido a bola: “Solta a bola para o coroa, porra!” E o coroa era eu. “EU!”

Esta fui a minha primeira percepção de velhice, talvez um tanto prematura. Concluí, então, que já não era jovem.

 

DESDE O DENTE DE LEITE,

É TUDO PURA EVOLUÇÃO

Hoje tento me consolar, dizendo que tudo é uma evolução. A gente perde os dentes de leite, começa a ter barba, sente que o cabelo começa a cair, tem dificuldade para ler sem óculos. E de repente paga meia em ônibus – sem nem pedir.

É mesmo pura evolução, se o ser humano sentir assim. Está somente passando de fase. Hoje, por exemplo, não tento mais pedir vaga no time do Tchan. Seria impróprio. Mas há muitas outras coisas boas a fazer.

Nessa linha de exemplos dignificantes, lembro de Dona Ana, avó da minha mulher Márcia. A velhinha morreu aos 97 anos, mas quando completou os 90 estava bem. Andava firme, cuidava sozinha de uma horta e conversava bastante. Comia de tudo!

Gostava de falar comigo. Um dia, me contando histórias, ela esqueceu alguns nomes. Impaciente, desabafou: “Quando a gente começa a envelhecer, até esquece as coisas!”. E já tinha 90 anos. Claro que não ri, nem contei esse caso de forma ridicularizante. Pelo contrário, virou exemplo de vida. Imaginem uma pessoa com quase 100 anos que ainda não se considera velha.

Portanto, acredite firmemente: velho é quem tem dez anos mais. Mas, quando você já tiver 65 anos, não recuse um tratamento preferencial. Você merece. E o Brasil tem evoluído nessa área, graças a Deus.

 

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