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ago 04 2015

RORIZ FEZ MUITO POR BRASÍLIA. DIGA QUEM FEZ MAIS DO QUE ELE?

 

RENATO RIELLA

Aos 79 anos, Joaquim Roriz recebe hoje o título de Cidadão Honorário de Brasília. Nascido em Luziânia (Goiás), ele tem intensa biografia desenvolvida no DF e merece esta homenagem.

De 1988 a 1994, passei seis importantes anos da minha vida acompanhando Roriz. Sou testemunha de fatos históricos, que posso discutir e provar.

Por exemplo, em abril de 1990, Roriz estava fazendo a sua primeira campanha para ser eleito governador (antes, governou o DF como indicado pelo Palácio do Planalto).

Naquele mês de abril, apresentei a ele o engenheiro José Roberto Arruda, da CEB, que antes havia sido secretário de Transportes no governo Aparecido. Isso aconteceu num longo almoço no Hotel Aracoara (nos anos seguintes, Arruda me perseguiu de forma inexplicável).

Numa conversa histórica de quatro horas, saiu a decisão de se fazer um Metrô no DF. Um mês depois, acompanhei Roriz e Dona Weslian (pessoa que gosto e respeito) numa viagem de uma semana ao Japão, onde estudamos profundamente a rede de trens e metrôs daquele país, ouvindo depoimentos técnicos e recolhendo material para pesquisa.

Saímos maravilhados, é claro. Andamos na cabine central do Trem Bala, visitamos a sala de situação do Metrô de Tóquio, etc.

E o Metrô do DF foi feito. Talvez seja a grande obra do Roriz, a ser lembrada nos próximos séculos pelos brasilienses.

 

CRIAÇÃO DO BATALHÃO ESCOLAR

Participei de outros momentos marcantes. Em 1989, por exemplo, uma estudante foi morta por bandidos numa escola do Gama, onde o corpo estava sendo velado sob grande revolta da população.

Fui com Roriz, no início da noite, ao local. Quando o carro oficial parou na porta da escola, foi apedrejado. Com risco, descemos e nos encaminhamos até o caixão, onde Roriz dominou a situação.

De estalo, sem combinar nada com ninguém, anunciou que estava criando, naquele momento, o Batalhão Escolar, uma solução genial para ampliar a segurança dos professores e alunos.

Detalhe: o governador saiu da escola sob aplausos. E o Batalhão existe até hoje.

 

POLO DE CINEMA DE SOBRADINHO

Na campanha de 90, Roriz viveu um momento surpreendente. No comitê eleitoral, levei uma comissão de cineastas, que estavam participando do Festival de Cinema de Brasília, tendo Nelson Pereira dos Santos como líder.

Antenor Júnior, produtor cultural, dirigiu o grupo. Antes da audiência com o candidato Roriz, Júnior me sugeriu discutir um Polo de Cinema em Brasília. Preveni o candidato sobre isso.

Começamos a conversar numa sala. De repente, Roriz falou: “Soube que vocês sonham em ter um Polo de Cinema em Brasília!”.

Dito e feito. O projeto foi explicado e aprovado – depois instalado. Pena que tenha sido esquecido ao longo dos anos, mas está lá em Sobradinho. Um dia pode ressurgir.

OS CANTEIROS DE FLORES

Há outro momento marcante que posso registrar. No início da década de 90, fui ao aeroporto buscar Roriz, que voltava de uma viagem oficial a Washington.

No caminho até a Residência de Águas Claras, ele comentou que a capital dos Estados Unidos estava verdejante e Brasília ardia na seca, com a grama queimada.

Sentamos para almoçar e o governador teve a idéia de chamar o “jardineiro de Brasília”, Ozanam Coelho, da Novacap.

Roriz pressionou o especialista Ozanam, querendo instalar irrigação nos gramados da cidade. O “jardineiro” explicou que era impossível. Falou ainda que a seca é característica da região e a grama, plenamente adaptada, se recupera nas primeiras chuvas.

De repente, cheio de brio, Ozanam fez a proposta dos canteiros de flores, a serem implantados nos balões das quadras brasilienses. Explicou direitinho a sua ideia. Saiu de Águas Claras com dinheiro garantido para fazer centenas de jardins urbanos.

Hoje, passados muitos governos, Ozanam e Roriz já se aposentaram, mas há milhares de canteiros que impressionam os visitantes e orgulham os brasilienses. Fui testemunha disso, com muita honra – e saudade do Ozanam.

 

VIADUTO AYRTON SENNA

Outro episódio que vivi foi dramático, também nos anos 90. Estava na casa do governador Roriz, domingo à noite, quando soubemos que morreram cerca de 40 pessoas na batida de um ônibus lotado com um caminhão, na EPIA, onde hoje há o viaduto Ayrton Senna.

Roriz ficou chocado, emocionado e revoltado, dizendo que precisava fazer algo, pois acidentes eram comuns naquele ponto. Foi chamado o secretário de Obras, o fantástico engenheiro Newton de Castro, que chegou em poucos minutos.

Newton apresentou de imediato croquis de um viaduto já pensado para o local, ainda não construído por falta de orçamento. Imediatamente, Roriz autorizou a obra, cujo nome foi escolhido em concurso feito com estudantes do DF, em homenagem ao grande Ayrton.

 

ASSENTAMENTOS SEM IRREGULARIDADE

Participei de todos os momentos relativos aos assentamentos. Neste ponto, mais do que tudo, Joaquim Roriz é injustiçado, graças aos profissionais de Comunicação que acompanharam ele em governos seguintes.

Vejam vocês que o governador distribuiu mais de cem mil lotes, criando cidades vistas com preconceitos pela elite e pela oposição, mas que são modelo no país, incrivelmente valorizadas.

Quem mora em Samambaia, Santa Maria, São Sebastião, Paranoá, Recanto das Emas e Riacho Fundo tem orgulho da sua propriedade e conta com recursos muitas vezes inexistentes em cidades antigas do Brasil.

O mais incrível é que a imprensa, o Ministério Público e a oposição vasculharam os cadastros da antiga SHIS e nunca encontraram qualquer irregularidade. Mérito também para Tadeu Filippelli, que coordenou este processo.

Todos os que receberam lotes tinham mais de cinco anos de residência no DF (nem do Entorno valia). Os lotes saíam sempre em nomes das mulheres, para proteger a família, sendo dirigidos a quem tinha filhos.

A maioria dos moradores dos assentamentos saiu de favelas existentes no Plano Piloto (dezenas), em Taguatinga (Boca da Mata e outros), etc.

Se os assentamentos não tivessem ocorrido, as áreas do Noroeste e do futuro Parque Burle Marx seriam de favelas, assim como parte da UnB, etc. Mas ficou o estigma de que assentamento era lote em troca de votos. Infelizmente, Roriz não consegue fugir desta imagem, mas é sempre reconhecido pelas populações beneficiadas.

 

BIBLIOTECA DA 512 SUL

Tenho muitos outros depoimentos, como testemunha da história de Brasília ao lado de Roriz, nos seis anos em que fui secretário de Comunicação Social, Cultura, Trabalho, Administração e Serviços Sociais.

Para terminar, um relato que me emociona. Passo quase todo dia pela Biblioteca da 512 Sul, de onde tenho carteirinha de usuário.

Na verdade, devo essas lembranças à bibliotecária Neusa Dourado, criadora da Mala do Livro, projeto que levava publicações diversas às cidades pobres do DF.

Um dia, de forma despretensiosa, Neusa me disse: “Secretário, consiga um dos prédios da SAB para a gente fazer uma biblioteca”. Fiz que não ouvi, mas registrei.

Dias depois, almoçando com Roriz em Águas Claras, pedi a ele um dos terrenos que a SAB, supermercado do governo em extinção, iria vender.

Roriz tem o hábito de perguntar o nome de quem pediu o projeto. Fazia isso sempre que a gente levava alguma proposta.

Expliquei que foi Neusa Dourado (já respeitada por outras ações), em nome das bibliotecárias do DF.

O governador pensou, pensou, pensou e perguntou: “Serve o da 512 Sul?” Claro que respondi positivamente. Liguei para Neusa, tomamos as providências burocráticas e inauguramos a biblioteca.

Com a carteirinha (qualquer um pode ter uma), tiro o livro que quero, que fica na minha casa até por 15 dias. Você, que está lendo, seja também usuário da Biblioteca da 512 Sul!

 

RORIZ, MAIOR DE IDADE AOS 16 ANOS

Tenho muitas outras histórias do Roriz, que posso contar depois. Por exemplo, ele me contou que pediu ao pai, quando tinha 16 anos, para ser emancipado. Em cartório, passou a ser considerado de maior. Comprou um caminhão e veio vender areia e brita para a construção de Brasília, embora já fosse rico, filho de grande fazendeiro.

Contou também, em 1990, logo depois de eleito governador, o grande drama da sua vida.

Diante de um lindo retrato de criança, confessou que viu a sua vida acabar, quando seu único filho homem, com menos de dez anos de idade, morreu de hemofilia (hemorragia), doença que hoje já tem relativa cura.

Digam o que quiserem do famoso Joaquim Roriz, que pode ter relaxado aqui ou ali, mas nenhum outro político fez nada de tão significativo por Brasília, cidade que ajudou a construir desde a época de JK.

Sinto muito, mas quem quiser que conte outra!

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