RENATO RIELLA
Passei alguns segundos num elevador em Brasília, com sete pessoas. De repente, todo mundo estava falando mal da Copa, até que as portas foram se abrindo e as pessoas saindo aos poucos.
“Tudo uma roubalheira”
“Vão levar nosso dinheiro no mole”
“Não dá para acreditar em ninguém no Brasil”
“Quero que todos se ferrem”.
No fala-fala, dentro do elevador, ninguém demonstrou ódio, nem gritou. Quase todos faziam comentários horríveis sorrindo, meio na molequeira, mas num uníssono de insatisfação.
Isso ocorreu em Brasília. Havia uma mulher branca e mais velha; um rapaz bem negro e mais novo; um homem de meia idade, com paletó e gravata; e eu, na média desse público.
Depois disso, afirmo que, hoje, não dá para prever o que vai acontecer nos meses de junho e julho.
Ninguém leve em conta os protestos realizados ontem e nos dias anteriores. Não valem como parâmetro. São manifestações oportunistas, nas quais policiais, gente que se diz sem-terra, professores e Black Blocs saem às ruas sem se preocupar com o país – nem com a Copa.
É o famoso “queromeu”. Muitos e muitos brasileiros tentam aproveitar-se do momento para obter vantagens para suas categorias, o que pode ser visto como uma atitude desonesta.
A discussão verdadeira, sobre os estádios caros demais, as exigências da Fifa, a falta de honestidade nas obras e outros fatores culminantes da realidade brasileira ainda não está ocorrendo.
Em junho do ano passado, temas transcendentais vieram às ruas, mas agora é um varejo sem credibilidade.
O certo é que o brasileiro está desiludido, descrente dos políticos e dos partidos, vendo a Copa como uma intrusão na nossa vida difícil.
E tudo pode acontecer. Ou nada.
Será que vai mesmo haver Copa? Esta é a pergunta que se instala na nossa cabeça neste momento, por incrível que pareça.