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abr 21 2015

TRAGÉDIA NO MEDITERRÂNEO: GENTE A SUL DA SORTE

FRANCISCO SEIXAS DA COSTA

LISBOA – A ideia de que centenas de pessoas morreram afogadas num porão de um navio, no meio do Mediterrâneo, quando tentavam chegar às costas europeias, em busca de um futuro distante da miséria das suas origens africanas, é um murro no estômago de todas as pessoas com consciência.

Como sempre acontece perante casos destes, as boas almas europeias sobressaltaram-se, na maioria dos casos, presumo, com real sinceridade. E, para darem um ar “operacional”, as autoridades anunciaram logo que vão fazer reuniões de emergência e coisas de igual quilate (e talvez um “rigoroso inquérito”, como por cá é moda…)

Não quero ser cínico, mas não consigo deixar de perguntar: o que é que vão fazer? Já sei que a resposta vai ser “lutar contra as máfias do tráfico de pessoas”, que vivem à custa da exploração daquela pobre gente, com travessias de imenso risco.

Até aí estamos todos de acordo. E depois? Está a Europa disponível para acolher no seu solo os muitos milhares de africanos que chegam às costas da Líbia (onde hoje não há Estado)? E quantos? E como os distribui?

Ou será que se está apenas a aproveitar esta indignação para, através do pretexto da luta contra as máfias, tentar, afinal, evitar que os africanos entrem no continente europeu?

Será que a Europa está disponível para dar uma solução de vida a essa gente? Ou será que apenas pretende um modelo como aquele que existe em Ceuta, com centenas de pessoas penduradas nas redes de metal que encerram a primeira praça da nossa expansão?

Não será isso, lá no fundo, o “sonho” europeu?

A Europa tem de ter a coragem de dizer, alto e bom som, sem eufemismos, que não tem condições para receber milhares de cidadãos oriundos de Estados africanos (e outros) que se revelam incapazes de dar condições de vida decentes a essas pessoas.

E tem de ter a frontalidade de dizer que, apesar dessa gente passar por lá fome, violência e imensas provações, não está disposta a abrir-lhes as suas portas. Mas tem de assumir isto, caramba! Andar com discursos piedosos a “fingir que faz” é de uma imensa hipocrisia política.

O que a Europa podia fazer, e não faz, é promover políticas decentes e eficazes de cooperação para o desenvolvimento nos Estados emissores de emigrantes, que fossem estímulos para a fixação das populações.

Basta consultar as conclusões das cimeiras entre a UE e os países africanos para se ter um completo e bem elaborado catálogo do que neles se proclamou, assinou e não se cumpriu.

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