«

»

dez 06 2015

TREMI! ME JOGARAM UMA MACUMBA ASSUSTADORA NO ANO NOVO

Perto do fim de ano, lembro de uma história assustadora. Foi na cruzada de 2000 para 2001.

Resolvi passar o Ano Novo com meus pais, em Salvador, no bairro de Stiep. Fui de carro, a 180km por hora, num Monza novinho, 1.8, de roda larga.

Saí às 5h, para chegar às 19h30, dirigindo sozinho, com som bem alto, parando só duas vezes para abastecer, sem comer nada – só água de coco.

Quando passei por Feira de Santana, liguei para Dona Cecília e disse: “Pode esquentar a sopa. Estou chegando”. E minha mãe, com a maior seriedade, recomendou: “Venha devagar, meu filho”.

Passei o Ano Novo calmamente, brindando com cerveja. Fomos dormir pouco depois da meia noite e acordei às 6h. Às 6h30 do dia 1º de janeiro de 2001, cheguei no muro externo da casa e vi algo amedrontador.

Algum feiticeiro havia pendurado no alto do portão vermelho um sapo muito grande, com as pernas abertas e olhos esbugalhados, apresentando a enorme boca costurada com cordão. Horrível!

Pensei: coisa de macumbeiros, para repassar à minha família os males das famílias deles. Segundo meu pai, trata-se do enorme “sapo-boi”, usado pelo pessoal do candomblé baiano para trabalhos de “descarrego”.

Tomei susto! De imediato, lembrei do meu irmão Humberto, o Pinduca, que foi o menino mais danado da Cidade Baixa de Salvador. Passou um filme antigo na minha cabeça.

Humberto tinha um ano menos do que eu, mas me dirigia nas malandragens. Com sete ou oito anos, me levava às encruzilhadas, onde macumbeiros deixavam “despachos”.

Me comandava com palavras fortes. Mandava que eu, mais medroso, recolhesse em torno dos trabalhos de macumba valores como moedas, balinhas, carteiras de cigarro e outros, enquanto o famoso Pinduca mijava na parte central do despacho, onde havia farofa, azeite, etc, comidas para os “santos”.

O destemido Pinduca dizia que a urina quebrava o efeito do feitiço. Outros meninos, apavorados, acompanhavam de longe nossa maluquice, acreditando que a nossa vida iria virar um inferno. A força mental do Humberto devia fazer mesmo efeito, pois a nossa vida só melhorava – e muito.

Fortalecido com as experiências de criança, olhei para o sapão com raiva, peguei um cabo de vassoura e espetei o bicho inerte.

Abri o portão, meio tremendo de nojo, atravessei a rua e joguei o sapo-boi para cima, em direção às casas da frente. Na quase madrugada do novo ano, rua deserta, bradei forte: “Recebam de volta seu feitiço, seus miseráveis!

Fui a pé para a praia. Na volta, contei o caso para meus pais. O grande Agenor disse que feitiço se volta contra o feiticeiro. E a grande Cecília rezou as rezas de sempre. O resultado é que o ano de 2001 foi muitíssimo bom para mim e para minha família.

Quanto aos vizinhos, parece que ninguém morreu de lepra, não! (RENATO RIELLA)

 

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*