RENATO RIELLA
Sei que estamos comemorando o aparente fim dos desastres aéreos, mas viajar de avião virou uma tragédia – noutros sentidos.
Hoje de manhã, peguei um Boeing da Gol em direção a Salvador e fiquei cansado.
Cheguei no Aeroporto de Brasília mais de uma hora antes e encarei uma fila única com cerca de cem pessoas.
De tempos em tempos, uma moça bonita, vestida de vermelho, gritava o nome de um vôo e tirava às pressas alguns passageiros da fila para serem atendidos em cima da hora.
De repente, o inusitado. Na primeira fileira da enorme fila, um homem de 40 anos, mulato, elegante, de voz firme, bateu palmas para chamar a atenção e falou para as cem pessoas já estressadas:
-“Bom-Dia, pessoa. Vim para Brasília, pra trabalhar como caseiro, com minha família. Estamos hoje tentando voltar para a nossa cidade, mas está me faltando R$ 200,00 para as passagens. Peço a contribuição de vocês”.
Ele entrou na fila de passageiros atrasados e esperou chegar bem na frente para fazer o apelo. Ficou ali, paradão, enquanto uns davam cinco reais, dez reais. Quando juntou alguma grana, jogou para nós um obrigado sonoro e foi-se.
Não vi a família do cara. Não sei se comprou as passagens. Não sei se é um novo golpe.
Portanto, se acontecer de novo, podem chamar a polícia. Por hoje, foi apenas chocante esta cena meio forte numa fila cheia de tensão.
Sei que os aviões não caem mais, mas ficou desagradável viajar por via aérea.